Thursday, June 16, 2016

Esquerda e Diversidade, Direita e Monomania

Quando discuto política, duas perguntas geralmente são necessárias. A primeira:

"Quais são os seus conceitos de direita e esquerda?"

SEUS conceitos, pois admito que não existe apenas uma definição para cada palavra. Um automóvel pode ser um meio de transporte, um objeto de ostentação e uma arma.

A resposta à pergunta me dá uma ideia das posições políticas da pessoa. Por isso, antes de prosseguir convém explicar a minha definição dos termos direita e esquerda.

Geralmente ouvimos que essa distinção surge na Revolução Francesa, onde o representante da nobreza se sentava à direita do rei, e o representante do povo à esquerda. Pouco mais de 200 anos de história, pois.


MILÊNIOS DE DIREITA/ESQUERDA

O que raramente ouvimos é que o Dao De Jing, o antigo clássico taoísta de Lao Zi (também escrito Tao Te Ching de Lao Tzu ou Tao Te King de Lao Tse), já trazia os mesmos conceitos há cerca de 2500 anos.

Vejamos:

Exércitos são instrumentos sinistros
que os seres desprezam
por isso quem segue a Natureza (o Dao/Tao) não os usa.
Alguém nobre, em casa, valoriza a esquerda
dirigindo um exército, valoriza a direita.
Exércitos são instrumentos sinistros
não são instrumentos de pessoas nobres.
Quando seu uso é inevitável
a calma e a suavidade devem prevalecer.
A vitória não é bela.
Quem vê beleza na vitória
se satisfaz com assassinatos.
Quem se satisfaz com assassinatos
não pode alcançar sua vontade no mundo.
Ocasiões propícias favorecem a esquerda
ocasiões nefastas favorecem a direita.
O segundo general fica à esquerda
o primeiro general fica à direita
pode ser dito que estão em um funeral.
Quando morrem multidões só podemos lamentar.
A vitória na guerra é como um funeral.

Dao De Jing 31

Em casa, valoriza-se a esquerda: os valores da família, da comunidade, do povo. Dirigindo um exército, um comandante deve seguir as ordens do rei: os valores do poder, do topo da pirâmide. Ocasiões nefastas (como uma grande guerra) podem favorecer o rei e encher os seus bolsos, mas matam multidões e empobrecem os sobreviventes. Ocasiões propícias são aquelas que melhoram as condições de vida da maioria.

Podemos ver aqui exatamente a mesma definição de direita e esquerda utilizadas na Revolução Francesa e repetidas até hoje.

Ora, mas enquanto numa monarquia era possível -- e até desejável -- tomar o lado do rei, numa "democracia" tal ideia é indefensável: teoricamente todos buscam o "bem comum", e nenhum candidato poderia anunciar publicamente que está ali para defender os interesses dos poderosos, sob pena de uma derrota fulminante nas urnas. Assim, enquanto a esquerda continua anunciando a distinção entre direita e esquerda, bem como o seu inerente conflito de interesses (chamado "guerra de classes"), a direita insiste que tal distinção "está ultrapassada" (como se reconhecer uma distinção fosse causá-la!). Ou, num esquema marqueteiro típico, associam a esquerda ao totalitarismo comunista (como se as ditaduras capitalistas não fossem também totalitárias), enquanto associam a direita à "liberdade individual" associada ao "American Way of Life" e à "terra da liberdade e das oportunidades" representada pelos EUA (paradoxalmente ou não, hoje o país com a maior população encarcerada do planeta).

Assim, no discurso da direita, ora direita e esquerda não existem, ora direita representa liberdade e esquerda representa escravidão e ditadura.

Assim, a resposta do interlocutor à minha primeira pergunta me permite saber se suas ideias estão mais afinadas com o discurso da direita ou da esquerda.

Caso sua posição seja típica da direita, isso me leva à segunda pergunta:

"Quais são as suas fontes de informação da esquerda? Porque as da direita eu já sei."


A MÍDIA E A DIREITA

Se for preciso explicar, digo que a grande mídia é dominada pela direita. Num espectro eletromagnético onde cabem centenas de canais de TV aberta, conchavos antigos e anti-democráticos mantêm até hoje pouco mais de 10 canais -- todos muito parecidos -- disponíveis ao grande público. Todos com a mesma versão dos fatos: a versão do "rei", sem direito ao contraditório. Ou, quando o contraditório tem espaço, é apenas um simulacro, como os poucos negros colocados numa publicação de brancos e para brancos, para dizerem que não são racistas. Ou um debate sobre "a diversidade de religiões", onde chamam um católico, um protestante da Universal, outro protestante da Deus é Amor, um batista, um jesuíta e um ateu, ou seja, cinco cristãos e um que se define a partir da negação dos outros. Chamar xamãs indígenas, hinduístas, confucionistas, jainistas? Não, obrigado.

Dificilmente uma pessoa criada pelas ideias da direita saberá responder a essas perguntas, ou se mostrará satisfeita ao ter exposta sua ignorância. Mas num país com 75% de analfabetos funcionais, a grande maioria é criada pelas ideias da direita via televisão.

Mas essas questões visam expor algo ainda mais profundo: a origem e o crescimento da concentração de renda e poder, favorecida pela direita (e por isso mesmo ocultada pela grande mídia brasileira). Por exemplo, uma reportagem que saiu na Forbes (http://www.forbes.com/sites/laurashin/2014/01/23/the-85-richest-people-in-the-world-have-as-much-wealth-as-the-3-5-billion-poorest) afirma:

  • Quase metade da riqueza mundial está agora nas mãos de apenas 1% da população.
  • A riqueza do 1% de pessoas mais ricas do mundo soma 110 trilhões de dólares. Isso é 65 vezes a riqueza total da metade mais pobre da população mundial.
  • A metade mais pobre da população mundial possui o mesmo que as 85 pessoas mais ricas do mundo.
  • Sete em cada dez pessoas vivem em países onde a desigualdade econômica tem aumentado nos últimos 30 anos.
  • O 1% mais rico aumentou sua parcela da renda em 24 dos 26 países para os quais temos dados entre 1980 e 2012.
  • Nos EUA ["terra da oportunidade"?], o 1% mais rico capturou 95% do crescimento pós-crise financeira desde 2009, enquanto os 90% mais pobres ficaram ainda mais pobres.

A pesquisa original, publicada pela Oxfam International, pode ser obtida em http://www.oxfam.org/sites/www.oxfam.org/files/bp-working-for-few-political-capture-economic-inequality-200114-summ-en.pdf

Parte desse aumento na concentração se deve a estratégias adotadas por economistas e outros manipuladores do sistema financeiro, que lucraram muito com crises como a da Bolha Imobiliária (EUA, 2007-2009), além de suas manipulações com títulos podres, derivativos e outros esquemas que lhes permitem a manipulação de "recursos" muito maiores que a riqueza real produzida em todo o planeta. E as agências que deveriam regular apenas abrem mão disso, todos fingem que tudo é muito complicado para que o cidadão comum possa compreendê-lo, e por isso a TV dá notícias apenas superficiais, sem explicar exatamente o que ocorre e o pouco necessário para que fosse evitado.

Veículos especializados comparam a crise pós-2008, que aflite continentes inteiros, com a famosa crise de 1929 (ex: http://money.cnn.com/2014/08/27/news/economy/ben-bernanke-great-depression/ e http://www.forbes.com/sites/robertlenzner/2014/06/22/the-2008-financial-collapse-was-worse-than-1929).

Mas alguém que só tenha "fontes de informação da direita", ou seja, alguém que só vê TV e não busca segundas e terceiras opiniões em outras fontes -- necessariamente escritas -- acreditará que só o Brasil está em crise. Afinal, é objetivo evidente da grande mídia manter no poder apenas os partidos que satisfaçam os interesses dos poderosos, não importa quanta mentira e omissão sejam necessárias (como teria dito Deus a José, após engravidar Maria: "o pessoal acredita em qualquer coisa").


O PROGRESSO DA ESQUERDA

O governo de esquerda que se instalou no Brasil e em boa parte da América Latina desde 2002 representou um imenso alívio à miséria vivida pela maioria (embora conhecida só de "ouvir falar" pelos formadores de opinião criados em berço de ouro). Indicadores como o Índice de Gini e a participação no PIB mundial atestam tal mudança.




Mas esses índices não são mostrados pela grande mídia, números favoráveis são camuflados em gráficos desfavoráveis, comparações históricas de 20 ou 30 anos nunca são mostradas (apenas comparações com "o mesmo período do ano passado", quando convém). Afirmam que a Petrobras está "falida" (mesmo com as reservas trilionárias do pré-sal) porque assim fica mais fácil vendê-la para os poderosos que, de longe, controlam o sistema. Exemplos da grande mídia distorcendo números não faltam:



Há mais de um século, o presidente dos EUA, Woodrow Wilson, denunciou os homens por trás de tudo isso, numa das raras ocasiões onde um político diz a verdade:

"Uma grande nação industrial é controlada por seu sistema de crédito. Nosso sistema de crédito é privadamente concentrado. O crescimento da nação, portanto, e todas as nossas atividades estão nas mãos de uns poucos homens que, ainda que suas ações sejam honestas e voltadas para o interesse público, estão necessariamente concentrados nas grandes empresas onde seu dinheiro está aplicado e que necessariamente, pela razão mesma de suas próprias limitações, esfriam e controlam e destróem a verdadeira liberdade econômica."

"Nós restringimos crédito, restringimos oportunidades, controlamos o desenvolvimento e nos tornamos um dos mais mal guiados, um dos mais completamente controlados e dominados, governos no mundo civilizado – não mais um governo pela livre opinião, não mais um governo por convicção e o voto da maioria, mas um governo pela opinião e coação de pequenos grupos de homens dominantes."

Woodrow Wilson, 1913 - http://www.gutenberg.org/files/14811/14811-h/14811-h.htm

Mas quem são esses "pequenos grupos de homens dominantes"? Os donos do capital. Os donos dos bancos. De forma figurada, aquelas "85 pessoas mais ricas do mundo" que detêm tanta riqueza quanto a metade mais pobre da população. Quem são, afinal? E como conseguiram ficar tão ricos?


OS DONOS DO CAPITAL

Precisamos voltar no tempo. Quando europeus invadiram e saquearam continentes inteiros, como África e América, levaram quantidades incalculáveis de ouro e prata, além de produtos valiosos como café, tabaco e açúcar (três drogas, segundo a farmacologia, mas não segundo o jornal policialesco da TV). Ora, só a Espanha dominou perto de metade do território do Novo Mundo, porém hoje é um país que também sofre com a crise na região do Euro. Onde está todo o ouro que levaram? Devem tê-lo usado para pagar juros de contratos mal-feitos (ou feitos sob medida para o lucro dos poderosos, assim como as privatizações denunciadas no Brasil, e abafadas -- como sempre -- pela grande mídia).

Durante a Idade Média na Europa, os católicos não podiam emprestar dinheiro a juros, pois estariam cometendo o "pecado da usura". Assim, apenas algumas famílias, principalmente judaicas, puderam enriquecer com esta prática. Enriqueceram tanto, de fato, que ameaçaram dominar completamente a economia, razão que contribuiu com sua expulsão de vários países. Ainda hoje, contemplando as listas de pessoas mais ricas do mundo, vemos uma grande quantidade de judeus. O papel de Israel na política mundial e no noticiário televisivo seria desproporcional, caso fosse sua área e recursos naturais que estivessem em jogo, e não sua posição financeira.

Ainda assim, precisamos voltar ainda mais no tempo para entender como diversas nações cristãs permitiram tamanho acúmulo de capital por "uns poucos homens dominantes".


MONOTEÍSMO E MONOPÓLIO

A Cabala judaica afirma que os judeus já foram um povo politeísta, como a grande maioria dos povos de então. Em algum momento de sua história, contudo, tornaram-se monoteístas. Passaram da afirmação e adoração de vários deuses para a afirmação da existência de um único deus, e sua exclusiva adoração.

Então chegam Jesus e seus doze apóstolos, todos aparentemente judeus. E surge a separação entre Antigo e Novo Testamento, todos escritos por judeus. É dizer: a história do mundo dos cristãos é apenas a história do mundo dos judeus, tal qual contada na mitologia do Antigo Testamento. É como dizer: os cristãos são apenas crianças, quando comparados aos judeus; e assim como um pai conta ao seu filho uma estória sobre seus grandes feitos de outrora -- estória que a criança considerará verídica -- assim os judeus contaram aos cristãos a estória -- ou mito -- da criação e desenvolvimento do mundo e das raças, estória que os cristãos são "forçados a acreditar" por medo, tanto da punição social como da eterna.

Mas o que talvez mais esclareça o domínio que os judeus têm sobre os cristãos -- e que lhes permitiu um domínio financeiro hoje quase absoluto -- é a mais popular oração cristã, o Pai Nosso:

"Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido."

Uma simples fórmula, uma passagem aparentemente inofensiva, mas cujo sentido vai muito além da aparência suave. Cabe ao cristão perdoar seus ofensores, não importa o tipo ou grau de ofensa. O "oferecer a outra face" de Cristo. Aquele que não perdoa seus ofensores não terá suas ofensas perdoadas no "fim dos tempos". E, posto que "somos todos pecadores", então todos precisamos de perdão, logo devemos TODOS perdoar "a quem nos tem ofendido". Se os judeus são donos do sistema financeiro e cobram hoje juros exorbitantes de todas as nações, ainda assim devemos perdoá-los. Não seria uma coincidência incrível que justamente eles tenham nos ensinado tal oração, e ainda mais, tenham-na classificado como "oração maior"? (As bolas maiores do terço se referem ao Pai-Nosso. Nas terras indígenas onde se ensina a escrita em língua nativa, podemos ver o Pai-Nosso afixado em letras garrafais nas paredes das escolas, como o Pë Mãi Hape em Yanomami.)



O que acontece nas nações não-cristãs quando um alto funcionário, ou mesmo o rei, é acusado de corrupção ou qualquer outra grande traição contra o seu povo? Sabendo que o povo não o perdoará, põe fim à própria vida. Isso sem dúvida deve inibir a corrupção! E o que acontece nas nações cristãs? Absolutamente nada! Alguns poucos são presos, mas na maioria dos casos continuam ricos e poderosos, às vezes em "prisão domiciliar", quando não permanecem como presidentes do Senado ou da Câmara dos Deputados (no Brasil, o caso de Sarney é apenas um entre muitos. Paulo Maluf não pode sair do país uma vez que é procurado pela Interpol, mas isso não o impediu de ser eleito Deputado Federal em 2010 e novamente em 2014, além de ser considerado pela Forbes um dos 5 políticos mais ricos do país).

Mas além do Pai-Nosso e da economia, há outros fatores que relacionam religião com política no geral, e o monoteísmo com a direita, em particular.

Pensemos na Grécia antiga ou qualquer outra nação politeísta. Aqui temos um templo dedicado a Apolo, deus da luz, da verdade e da beleza, ali um templo dedicado a Deméter (Ceres para os romanos), deusa da fertilidade e da boa colheita, acolá um templo dedicado a Atena (para os romanos, Minerva), deusa da sabedoria e das lutas justas.

Há quem diga que a diferença entre o politeísmo e o monoteísmo é "mínima", invocando a ideia da Santíssima Trindade para negar um monoteísmo estrito, e comparando os deuses inferiores a Zeus/Júpiter com os anjos e santos do cristianismo. Mas tal visão nega o fato de Júpiter não ser nem o primeiro deus cronologicamente, nem tampouco onipotente. Sua figura se assemelha mais à de um cacique que, embora tenha a palavra final, deve levar em consideração a opinião dos tuxauas e demais membros da comunidade. Numa civilização mais complexa, o politeísmo equivale a uma descentralização do poder, onde diferentes pontos de vista são apreciados por diferentes sacerdotes, e onde interesses conflitantes podem estar certos ao mesmo tempo (como na tragédia grega clássica, em oposição ao melodrama ocidental moderno, onde o bem DEVE vencer o mal, onde há sempre um mocinho 100% bom que DEVE vencer o bandido 100% mau).

É inegável o poder propiciado por essa concentração de deuses em um só. Se antes vários templos e escolas debatiam entre si, e qualquer cidadão podia buscar auxílio em um ou outro ponto de vista, após o monoteísmo a diversidade de escolas passa a ser combatida, e a "verdade" passa a emanar de uma única fonte, de uma única instituição, de um único ponto de vista. Assim, o cidadão deve apenas seguir a autoridade central cegamente, não há a quem recorrer. Nas guerras, os inimigos não são mais "outros como nós" que merecem ser tratados com o devido respeito, mas tornam-se "representantes do Mal", sem outro direito senão a violência e a morte. Não é à toa que o deus monoteísta é referido na Bíblia como o "Senhor dos Exércitos". Nenhuma nação faz ou fez tantas guerras quanto as nações monoteístas. O motivo pode ser terra, petróleo ou direitos comerciais, não importa. O importante é que é muito mais fácil convencer fieis cegos a matar aqueles que são retratados como seguidores do próprio "demônio".

Por sinal, não é acaso que "demônio" e "democracia" tenham o mesmo radical -- "demo" -- que significa povo, multidão. Na dicotomia típica do pensamento monoteísta, o que é 1 é bom, 1 deus, 1 crença, 1 fé, 1 verdade, 1 líder, 1 Papa. O que é plural é mau, seja "demônio", "politeísmo" ou mesmo a própria diversidade de formas da Natureza (inferior às "formas ideais" platônicas, que tanto influenciaram o pensamento cristão). Até mesmo a monocultura, que destrói a biodiversidade e polui terras e águas, é vista como algo positivo. É uma espécie de mono-mania, ou preferência injustificada pela ausência de diversidade. Algo como viajar o mundo almoçando sempre no McDonalds.

Assim, se Jesus ofereceu o vinho em sua memória, apenas o vinho é a droga aceita. Todas as outras devem ser banidas. Se o Gênesis descreve a criação de Adão e Eva (e não de multidões inteiras como em outras mitologias), então existe apenas 1 tipo de Homem e 1 tipo de Mulher, nada de homossexuais, bissexuais, travestis, transexuais ou hermafroditas. Se as formas da mente platônica de "Deus" foram criadas perfeitas, então toda diversidade é erro, doença, e uma teoria evolutiva é impensável (ao contrário das demais mitologias, que não costumam ter problemas em compreender as ideias de Darwin).

A guerra às drogas parece ter origem na mentalidade monoteísta. Se outras culturas usavam drogas entorpecentes e/ou alucinógenas como "ponte para o sagrado", então eram concorrentes diretas à ponte EXCLUSIVA que devia ser Jesus (João 14:6 "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai SENÃO por mim.")

"Lá pelo século IV, grupos de monges estavam invadindo propriedades onde era sabido que habitantes usavam drogas em cerimônias religiosas, e esses monges acabaram destruindo templos e matando pessoas. O ataque ao uso de drogas por não cristãos era o ponto central na plataforma política que os bispos usavam para obter poder e legitimidade."
Dr. David Hillman, autor de The Chemical Muse
https://youtu.be/pgcF06mw4q4?t=37m17s

Algo diferente da propaganda "anti-drogas" atual?

"Os cristãos eram bem antagônicos a qualquer concorrente de sua religião que estava crescendo e portanto os perseguiam, destruíam seus santuários e profanavam as suas esculturas."
Dr. Carl Ruck, Boston University
https://youtu.be/pgcF06mw4q4?t=37m4s

Mas os cristãos não eram antagônicos porque sua religião "estava crescendo". Os diferentes cultos às divindades dos panteões politeístas competiam entre si, mas de outra forma. Afinal, nenhuma divindade, nem mesmo Zeus ou Júpiter, clamou ser a "única existente". Foi a sua porção monoteísta, exclusivista, anti-diversidade, que tornou o cristianismo "mais antagônico" (ou melhor dizendo: mais assassino) que a média das religiões/cultos.

Alguns afirmarão que Cristo pregava a paz, portanto o cristianismo "não poderia" ter sido mais assassino. Ora, o ideal de homem propagado por Cristo é elevado demais para o homem comum. Não é um ideal que possa ser cumprido, como os ideais simples do taoísmo, digamos. Assim, aceitamos que somos pecadores. Basta que nos arrependamos dos nossos pecados no momento certo. Tirando isso, o cristão médio tem autorização (do Papa inclusive) para saquear, estuprar e matar quantas vítimas pagãs conseguir (verdade que isso faz alguns séculos. Hoje o cristão médio apenas aceita as vítimas da chamada "guerra às drogas", as vítimas de uma medicina mercenária, da miséria, dos agrotóxicos...).

Dizem ainda que a escravidão só foi permitida pela Igreja porque não sabiam ao certo se os povos escravizados eram realmente HUMANOS. Nem mesmo depois de séculos de mestiços nascendo por toda parte. Vamos fingir que acreditamos? Ou vamos reconhecer que a direita é isso? "Mentira e negação, enquanto o poder puder ser concentrado em nossos bolsos."

Essa concentração de renda e poder não reconhece fronteiras. Não reconhecia antes, hoje na era da Internet reconhece ainda menos. Não importa se sugam o sangue de um país distante ou do próprio país onde trabalham. Vejamos o rombo causado por esses "pequenos grupos de homens dominantes" em seus países de origem.

Durante décadas, G7 se referia às sete nações mais ricas do planeta, todas representantes do monoteísmo e imperialismo ocidental: Estados Unidos, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido. (O Japão pode ser considerado "Oriental" por alguns, mas não acho que muitos orientais concordariam. O Japão se ocidentalizou demais. Mesmo sua religião absorveu mais elementos monoteístas do que a fonte maior de sua cultura antiga, a China.)

O que acontece quando outras nações ultrapassam o antigo bloco "dono do mundo"? Temos um novo G7: Brasil, China, Índia, Indonésia, México, Rússia e Turquia somaram um PIB maior (em paridade do poder de compra) do que os antigos líderes. O que a mídia fez diante de feliz novidade? Certamente o mínimo de barulho possível. O que a indústria fez? Batizou logo um novo modelo de automóvel de "G7", de forma que qualquer busca por "novo G7" na Internet te dará inúmeras fotografias do novo VW Gol G7, e quase nada sobre a política internacional. Camuflagem, maquiagem, mentiras e omissões: a eterna arma da direita "democrática". (Descobri agora que batizaram o novo G7 de "E7", sendo E de Emergentes. Dessa vez, foi a Samsung a responsável por lançar um fetiche comercial com o mesmo nome: Samsung Galaxy E7.)

Mas o que pode explicar tal mudança? Como nações outrora poderosas estão perdendo seu poder? As eleições da esquerda na América Latina em pouco mais de uma década não podem ser a única (nem a principal) explicação. (Ou porque esses "iluminados" líderes chamariam nossa região de "lata de lixo geopolítica"?)

Uma resposta parece estar nos bancos. Nações onde a maior parte dos bancos é pública estão crescendo mais que países que privatizaram a maior parte de seus bancos. É a velha mensagem de Woodrow Wilson: os "pequenos grupos de homens dominantes", quando tomam para si os bancos, investem naquilo que os fará ainda mais ricos, e não nas necessidades das crianças pobres de vizinhanças onde eles jamais botarão os pés.

Mas como tanta coisa errada pode acontecer sem que ninguém faça nada?

Simples: Primeiro, os cristãos são coniventes demais, estão preocupados apenas com a própria salvação; e acham que a Terra é descartável, de qualquer maneira (como diz o livro do Apocalipse). Segundo, os ocidentais são mal informados demais, pois buscam notícias principalmente numa TV concentrada nas mãos dos mesmos barões que controlam quase tudo.

Vejamos outro exemplo. Substâncias que são proibidas em alguns países por serem tóxicas. Essas mesmas substâncias ainda serão usadas em outros países por décadas, até que alguém descubra a proibição original e se dê ao trabalho de lutar pela saúde do povo do seu país. Onde estão a Organização Mundial da Saúde e a Organização Mundial do Comércio nessas horas? Certamente fazendo gráficos de como a medicina melhorou "porque os gastos com remédios aumentaram". Não são instituições para defender as pessoas, são instituições para defender o lucro.

A mesma busca pelo lucro e pelo crescimento arruinou o Império Romano, poucos séculos depois de se tornarem cristãos. Antes seus intelectuais eram versados em várias línguas, conheciam a cultura de diversas nações e épocas. Depois da conversão ao cristianismo, liam apenas a Bíblia, conheciam apenas a história judaica. E queriam dominar o mundo! Tentaram, mas é claro que a fertilidade do solo não foi suficiente para tamanha empreitada. Chineses e indianos, ao contrário, estão aí há muito mais tempo, com uma população muito maior, sem ter arruinado a fertilidade do solo nem exterminado sua megadiversidade.

Agora nós, o Ocidente judaico-cristão, continuamos acreditando que temos a missão de "salvar o mundo da sua brutalidade e barbárie", sem perceber que os brutais bárbaros somos nós. Estamos destruindo a fertilidade do solo, a diversidade alimentar e toda a biodiversidade, fonte de saúde física e mental, apenas porque somos ignorantes demais para saber o que estamos fazendo, e porque somos arrogantes demais para parar de fazê-lo, ou de convencer o próximo de que estamos errados.

Se o destino da nossa civilização é a ruína, que venha então logo, antes que arruinemos ainda mais aquilo que não conhecemos, e por isso não sabemos amar.