Saturday, February 25, 2006

A árvore dos sentidos

Quero desvelar a realidade e não apenas viver nela.
Quero estender os meus sentidos sobre todas as superfícies
ao menos pra conhecê-las.

O espaço e o tempo escondem feitos e histórias que se perdem na vastidão imensa.

As pernas que as procuram conduzem a mente a funcionar e conhecer o mundo.

O corpo são e a mente sã como princípio, com doses regulares de desequilíbrio, condição essencial à toda sanidade.

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Como poderia alguém sobreviver à visão de um Deus cegante e infinito, se o futuro nada mais poderia trazer de novidade? Como poderia este infeliz sobreviver entre seus semelhantes, se nada mais poderia vir deles que o interessasse, e nem mesmo ele poderia transmitir-lhes o menor, o mais indivisível reflexo da terrível verdade que contemplou?

Somos um e vários, mas nossos sentidos não estão por toda parte; as partes insólitas e inéditas do mundo são a última relíquia sagrada que podemos ainda valorizar, justamente por não as conhecermos - quem saberá o que é o melhor, enquanto há ainda tanto espaço e tamanhas distâncias?

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Se meus eus não têm autoridade sobre mim, se o próprio Eu é uma ilusão e tudo o que existe são impressões e vagas num oceano indiferente à existência, o tempo é um teatro a ser representado, um jogo de regras maravilhosas e interações infinitas, onde cada diálogo pode encerrar uma tragédia ou uma divina comédia. Mas só é bom pra quem está acima de vários limiares que a superpopulação mundial impôs. Se é divertido para você, por que se incomodar com os outros? Desafio-te, leitor, a me responder afirmativamente!

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O que é ou deveria ser a vida do indivíduo comum, senão a mera aceitação do que lhe é dado, em conformidade com a esperança e a gratidão, em aceitação da sua sociedade e em benefício da sua família - todos preceitos caros às maiores religiões? Em outras palavras - um mundo sem religião é um mundo anárquico, onde os maiores não teriam o potencial para realizar sua arte "extra-humana".

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O bem e o mal em equilíbrio, embora a sociedade humana ancestral favoreça menos mal. Hoje a sociedade guardou pouco do ancestral, mas o mal hoje me parece mais estabelecido que quando éramos caçadores-coletores. Somos como ratos em gaiolas numa feira.

De qualquer maneira, a menor distância ao equilíbrio bem/mal reside em cada pessoa.

Não são as castas que definem seu bem e seu mal, mas o indivíduo, que se sujeita aos grupos e castas e clubes para absorver seus valores com um pouquinho de vasilina. Não - vive-se em clubes e castas porque funciona, apenas.

As aglomerações "naturais" definem seu bem e mal.

O que é bem e mal para o "escravo" não pode ser para o "senhor", como Nietzsche nos lembra.

E quem vai dizer que não há escravidão?

Onde restou para existir bem e mal únicos senão nas igrejas?

Logo, e para encerrar o assunto, não há um Deus comum entre ambos, senhor e escravo, a não ser justo aquele que garante a dominação. Eis aí um paradoxo.

O paradoxo é: deve Deus ter vergonha de usar cuecas? E porque se incomodaria com o status quo?

...cada cabeça tem o dom da sentença.

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