Wednesday, March 01, 2006

O Carnaval

O carnaval é antes de tudo uma festa religiosa e por isso eu acho adequado fazer uma penitência. Todos os anos eu me penitencio no carnaval, com um severo jejum de quatro dias. Alimentando-me apenas de líquidos (e comendo uma ou outra porcaria, porque também não sou santo).

Os líquidos que compõem a minha dieta nestes dias consagrados consiste principalmente de derivados de vegetais, do lúpulo e da cevada, por exemplo. Como bom Franciscano, prego a modéstia, a humildade e abdico do conforto, andando noites inteiras em procissões completamente abarrotadas de gente e com uma música religiosamente hipnótica, acompanhada de diversas danças e rituais sagrados, não apenas com um íntimo regozijo espiritual, mas na esperança de encontrar algum santo. Já não falei que sou um homem religioso?

5 Comments:

At 5:03 PM , Blogger Prós said...

Nunca duvidei de sua religiosidade. Eu mesmo, que de religioso não tenho nada, não participei de cerimônia alguma.

 
At 12:57 PM , Blogger Rafa Pros said...

Muito bom, me lembrou um texto do Rubem Braga no qual ele critica um sujeito que detona uma cerimonia de candomblé, falando que é um horror, um atentado a ordem pública e tal. Aí ele faz uma descrição de uma missa nos mesmo moldes que o cara fez do ritual de candomblé. É finissimo. Conhecem?
Eu também fiz minha penitencia pela minha pobre alma nesses dias.

 
At 7:04 PM , Blogger Rodrigo said...

Pô Rafa, escreve o link aí, não conheço não. E Chico, você devia temer a ira dos deuses por não ter sacrificado sua paz e quietude em nome deles! Maldito seja!

 
At 3:37 PM , Blogger Rafa Pros said...

Achei aqui nos meu arquivos...
"REPORTAGENS---RUBEM BRAGA

O repórter de um vespertino carioca visitou uma casa em que viu muitos homens e mulheres cantando, um homem de roupa esquisita bebendo e rezando. O pessoa falava, às vezes, uma língua estranham e fazia gestos especiais.
O repórter tirou uma fotografia e voltou para a redação com uma reportagem atrapalhada falando de macumba, pai-de-santo, Exu, gongá, Ogum e outros nomes que servem para a cor local.
A reportagem acabava com a seguinte pergunta: “Que dirá a isso o senhor chefe de policia?”
Não tenho nenhum comentário a fazer a respeito. Quero apenas resumir aqui uma outra reportagem que fiz há tempo, por acaso, quando estava no Rio. Eu ia pela rua, certa pessoa me interessou e eu a segui. Ela entrou em uma casa grande. Como não tinha jeito de casa de família , também entrei. Dentro dessa casa vi tantas coisas extraordinárias que acabei esquecendo a tal pessoa.
Havia no fundo de uma ampla sala, armações de madeira, coloridas e iluminadas por pequenas lâmpadas elétricas e por algumas velas. Pelas paredes em buracos apropriados, haviam sido espalhadas estatuetas mal feitas. Um homem com uma espécie de camisola preta e com um pano bordado de ouro nas costas dizia palavras estranhas em uma língua incompreensível. A um gesto seu, mulheres e homens se ajoelharam murmurando coisas imperceptíveis. Depois apareceu um menino com uma camisola vermelha trazendo uma caçamba de onde saía fumaça cheirosa. Uma campainha fininha começou a tocar. Todo mundo ajoelhado abaixava a cabeça e batia no peito. O homem de camisolão preto bebeu um pouco de vinho e começou a meter na boca de cada velha que se ajoelhava em sua frente uma rodela branca. Em certo momento o menino de camisola saiu com uma bandeja. Pensei que ele fosse distribuir vinho, mas em vez disso recolhia níqueis e pratinhas. Depois umas senhoritas que estavam em uma espécie de camarote começaram a cantar. Vi mulheres com véus na cabeça e fitinhas azuis no pescoço fazendo sinais estranho e vi ainda muitas outras coisa mais.
Que dirá a isso o senhor Chefe de Policia?
Recife, 1935"

 
At 11:44 PM , Blogger Rodrigo said...

Realmente, o Braga é foda!

 

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