O Carnaval
O carnaval é antes de tudo uma festa religiosa e por isso eu acho adequado fazer uma penitência. Todos os anos eu me penitencio no carnaval, com um severo jejum de quatro dias. Alimentando-me apenas de líquidos (e comendo uma ou outra porcaria, porque também não sou santo).Os líquidos que compõem a minha dieta nestes dias consagrados consiste principalmente de derivados de vegetais, do lúpulo e da cevada, por exemplo. Como bom Franciscano, prego a modéstia, a humildade e abdico do conforto, andando noites inteiras em procissões completamente abarrotadas de gente e com uma música religiosamente hipnótica, acompanhada de diversas danças e rituais sagrados, não apenas com um íntimo regozijo espiritual, mas na esperança de encontrar algum santo. Já não falei que sou um homem religioso?
5 Comments:
Nunca duvidei de sua religiosidade. Eu mesmo, que de religioso não tenho nada, não participei de cerimônia alguma.
Muito bom, me lembrou um texto do Rubem Braga no qual ele critica um sujeito que detona uma cerimonia de candomblé, falando que é um horror, um atentado a ordem pública e tal. Aí ele faz uma descrição de uma missa nos mesmo moldes que o cara fez do ritual de candomblé. É finissimo. Conhecem?
Eu também fiz minha penitencia pela minha pobre alma nesses dias.
Pô Rafa, escreve o link aí, não conheço não. E Chico, você devia temer a ira dos deuses por não ter sacrificado sua paz e quietude em nome deles! Maldito seja!
Achei aqui nos meu arquivos...
"REPORTAGENS---RUBEM BRAGA
O repórter de um vespertino carioca visitou uma casa em que viu muitos homens e mulheres cantando, um homem de roupa esquisita bebendo e rezando. O pessoa falava, às vezes, uma língua estranham e fazia gestos especiais.
O repórter tirou uma fotografia e voltou para a redação com uma reportagem atrapalhada falando de macumba, pai-de-santo, Exu, gongá, Ogum e outros nomes que servem para a cor local.
A reportagem acabava com a seguinte pergunta: “Que dirá a isso o senhor chefe de policia?”
Não tenho nenhum comentário a fazer a respeito. Quero apenas resumir aqui uma outra reportagem que fiz há tempo, por acaso, quando estava no Rio. Eu ia pela rua, certa pessoa me interessou e eu a segui. Ela entrou em uma casa grande. Como não tinha jeito de casa de família , também entrei. Dentro dessa casa vi tantas coisas extraordinárias que acabei esquecendo a tal pessoa.
Havia no fundo de uma ampla sala, armações de madeira, coloridas e iluminadas por pequenas lâmpadas elétricas e por algumas velas. Pelas paredes em buracos apropriados, haviam sido espalhadas estatuetas mal feitas. Um homem com uma espécie de camisola preta e com um pano bordado de ouro nas costas dizia palavras estranhas em uma língua incompreensível. A um gesto seu, mulheres e homens se ajoelharam murmurando coisas imperceptíveis. Depois apareceu um menino com uma camisola vermelha trazendo uma caçamba de onde saía fumaça cheirosa. Uma campainha fininha começou a tocar. Todo mundo ajoelhado abaixava a cabeça e batia no peito. O homem de camisolão preto bebeu um pouco de vinho e começou a meter na boca de cada velha que se ajoelhava em sua frente uma rodela branca. Em certo momento o menino de camisola saiu com uma bandeja. Pensei que ele fosse distribuir vinho, mas em vez disso recolhia níqueis e pratinhas. Depois umas senhoritas que estavam em uma espécie de camarote começaram a cantar. Vi mulheres com véus na cabeça e fitinhas azuis no pescoço fazendo sinais estranho e vi ainda muitas outras coisa mais.
Que dirá a isso o senhor Chefe de Policia?
Recife, 1935"
Realmente, o Braga é foda!
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