Thursday, June 01, 2006

O ferro elétrico não é só um eletrodoméstico, é um paradigma.

É nele que se encontra a mão do presente, elétrica, com a brasa que ardia nos tempos mesmo da minha mãe.
É no ferro de passar roupa que se encontra o maior abismo do mundo: o social.
Todas as críticas que recebi no dia que usava uma camisa não passada foram de deboche, de rejeição.
Lembra um tempo em que os pobres não podiam pagar por ferros de passar, e assim mais uma diferença se estabelecia entre as classes, e o mundo se tornava um lugar melhor.
Hoje eles poderiam, se não dessem preferência à TV. Tudo que não é essencial é tão barato que qualquer pé-rapado hoje pode exibir seu celular.
Claro que não falo de miseráveis, esses sequer têm roupa a passar.

Mas queria mesmo falar de energia elétrica, eletricidade.
O Brasil é o país com 8 mil quilômetros de costa, vento, ondas e marés.
É o país com 8,5 milhões de quilômetros quadrados de Sol, Sol e Sol. E rios.
Mas só os rios são barrados de hidrelétricas. Só ali se separam populações de peixes, inunda-se florestas, mata-se árvores de madeira nobre, expulsa-se os moradores para gerar energia para... passar a roupa.

Sim, é evidente que não poderíamos levar uma vida minimamente decente se nossos panos lembrassem cortinas de consultório público.
Tudo o que lembra a pobreza e a falta de luxo deve dar uma dor de cabeça em quem não tem com que se ocupar ou coisa melhor pra pensar.

Sim, é claro que sem uma roupa passada, e branca não apenas como um branco qualquer, mas branca como o mais alvo dente do negro mais branco do planeta. Qualquer coisa pior que isso é preto, não serve.

Está já provado que a maior parte da energia consumida no país vem das indústrias, e não das residências. Ali, o chuveiro elétrico gasta bem mais, então que mal pode haver numa ruguinha de vaidade, num detalhe tão "irrelevante" quanto perene?

A conversa deve ir além....
o ferro de passar roupa é apenas um paradigma.

2 Comments:

At 10:31 AM , Blogger Prós said...

Desde que cheguei na Europa não passei uma roupa. (Na verdade nunca passei, já que, em BH, a empregada da minha mãe passava pra mim. Hoje em dia penso em empregada e acho um luxo desnecessário, mas vou deixar essa discussão de lado.) Tenho a impressão que o povo aqui também não passa roupa. Apesar disso, (creio eu que) não ando amassado... sei lá, quando vc dobra a roupa depois de lavar não precisa passar, precisa?

Qual a regra para escrever na próxima linha ou deixar um parágrafo ou continuar a frase na mesma linha?

No mais, estou certo de que a energia solar poderia ser muito mais bem aproveitada no Brasil do que realmente é. E apesar de estar sempre me preocupar em apagar as luzes... eu tomo banhos demorados.

 
At 3:42 AM , Blogger Rodrigo said...

Realmente, depois de um tempo no corpo os vincos desaparecem.

Regra? Não existem regras. Raduam Nassar, em Um Copo de Cólera, fazia uma frase por capítulo, e cada capítulo eram várias páginas. É bom passar para outro parágrafo quando você muda ou o assunto ou a cena (num texto de ação), é o que eu acho. Mas a criatividade manda, e nesse texto eu caguei pra isso tudo.

 

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