Ruídos ocos
Estar bem ou estar mal são apenas palavras.Meço meu temperamento pela minha disposição.
O que faço é o que preciso ou quero,
antes o que quero, só então - na última hora - o que devo.
O palco está armado para o palhaço,
a Lua está alta para a noite fresca,
para a brisa insinuante da noite fresca.
Se antes eu vaguei sem rumo entre a solidão e o imaginário,
agora meus sonhos me lançam rumo ao desconhecido,
e o dia é apenas vaga espera sem sentido,
em busca de sentido, ou de esquecimento.
O sentido do aprendizado é esquecer o que não se sabe,
e as palavras que outrora eram tão ricas em sentido -
essas são agora ruídos ocos, soltos numa multidão de amplos desertos.
Todo meu ser é um amplo espaço vazio,
preenchido por sal e leite,
ansioso por se soltar e se prender,
e voltar a se soltar.
Toda minha vontade é uma espécie de solidão,
que eu não compreendo, mas que me apraz,
que eu busquei compreender, sem rigor, avesso a crenças,
mas com a certeza estúpida de quem caminha no escuro.
Tateei as montanhas e derrubei pirâmides,
e agora me debruço sobre o fantástico, o mítico, o mundo dos sonhos -
que sentido pode haver num sonho de um mundo distante,
que se vê como se fosse o seu próprio,
e que não estará lá no outro dia?
Como poderia alguém retornar ao mesmo dia, às mesmas coisas,
sejam sonho ou realidade? O rio não corre? e com ele o tempo e tudo o mais?
Como poderia alguém atravessar a realidade sem olhar para dentro de si?
Como eu poderei acordar sem um certo remorso,
de não ter sido ainda melhor quando podia,
quando os inimigos ainda tinham força e objetivos lúgubres?
Se o universo é ele mesmo um vácuo,
se nossos sonhos não passam de um espirro divino,
um suspiro profundo de uma mosca desconhecida,
por que acreditar que qualquer coisa é?
Por que não sentir o que se sente, sem restrições, sem consciência,
sem a torturante avaliação que fazemos de nós mesmos,
e que sabemos que os outros também fazem de nós?
Quem se preocupa?
Tusso. Tosso. Minha garganta quer algo além.
Quer dormir e esquecer-se, como faz a grama e a relva alta sob o Sol.
Os pássaros que voam, os insetos, todos fazem o que deve ser feito.
Sem consciência, sem tempo, sem expectativas.
Quem aguardaria o nascer da Terra no outro lado da Lua?
Quem aguardaria o nascimento do diabo num mundo neutro?
Quem aguardaria o ocaso da civilização antes que os dinossauros houvessem perecido?
Quem aguardará um novo tempo, quando o hoje ainda é incompleto?
Quem se perturba em frente à corrente,
e não vai dormir antes do amanhecer?
Quem sabe o que dizem as almas mortas, quando as vivas não têm nada a dizer?
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