Alguns fatos por trás da "crise brasileira" (entre eles a crise mundial)
Para entender por que a mídia brasileira tenta afastar o PT do poder desde muito antes de 2002, é preciso entender que ela serve aos interesses dos verdadeiros donos do país, que nunca foram eleitos e certamente nem moram aqui.
Por que criticariam tanto o PT, se dados do Banco Mundial apontam que o nosso PIB aumentou 59,9% (de 2,107% para 3,369% do PIB mundial) entre o seu ápice anterior (cerca de 1980) e o mais recente (cerca de 2010)?
Crescimento ainda mais espetacular se medido apenas durante os 8 anos do governo Lula (de 1,480% para 3,369% do PIB mundial, um crescimento de 127,6%).
Por que favoreceriam tanto o PSDB, mesmo quando os mesmos gráficos mostram uma queda significativa do mesmo indicador desde os anos 1990 até 2002, último ano de FHC?
(Clique em um gráfico para ampliar.)
E o que teria causado a redução, ainda que pequena, entre 2010 e 2014? O governo Dilma (como anuncia a mídia em tom que beira a histeria), a crise em outros países com quem o Brasil tem mantido relações econômicas, o sensacionalismo da mídia afetando o humor dos mercados, uma combinação de todos esses fatores? Sabemos que o governo Dilma manteve o mesmo projeto político que garantiu o sucesso do governo Lula, principalmente na área social. Também sabemos que as crises globais intermitentes se transformaram numa constante após 2008, graças à ação (ou omissão) dos órgãos reguladores estadunidenses e internacionais, que deveriam monitorar a saúde do sistema financeiro e punir agentes irresponsáveis, mas que, ao contrário, mudaram as regras do sistema para favorecer esses mesmos agentes (leia aqui e aqui). Sabemos que essa crise, que completará agora 8 anos, foi tão ruim que está sendo comparada com a famosa crise de 1929 (exemplos aqui e aqui). Também sabemos que muitas das denúncias de corrupção que agora estão sendo investigadas a fundo já haviam sido denunciadas há muito tempo, mas que durante os anos de FHC e seu "engavetador-geral da República" foram devidamente abafadas, com ajuda da grande mídia.
Todas essas questões deveriam ser trazidas ao debate público, muito antes dos gritos alucinados de "impeachment", cujas razões já conhecemos bem.
Se acrescentarmos outros países, podemos fazer uma comparação melhor:
Alemanha e França, tidas pela elite tupiniquim como alguns dos maiores gênios sobre a Terra, já perderam quase metade de seu poder econômico desde os anos 1980. A Inglaterra segue ritmo parecido, ainda que um pouco mais suave.
Se acrescentarmos China e Japão, temos o próximo gráfico:
O crescimento da China já não é mais novidade, o que poucos sabem é a queda quase equivalente do Japão, o "amiguinho do Império Americano na Ásia".
Finalmente, se acrescentarmos os donos do Império, o gráfico chega em sua forma final:
onde o declínio do Império Estadunidense se torna palpável, ainda que aconteça em diferentes fases:
1) de 1960 a 1980: a revolução cultural dos anos 1960 parece abrir duas décadas de democratização mundial. A contracultura, com seu auge entre a maconha que Bob Dylan teria oferecido aos Beatles em 1966 e o Woodstock de 1969, mais o desgaste da imagem dos EUA no Vietnã dentro do próprio país, no mínimo coincidem com uma era de crescimento de outras economias, num cenário onde antes os EUA abocanhavam 40% do PIB mundial. 20 anos depois, este número havia caído para 25%, talvez num efeito deliberado pelos estadunidenses (precisavam de compradores para seus produtos?) ou talvez em boa parte por um efeito demográfico? Ou, quem sabe, por uma real redução de poder?
2) Nas duas décadas seguintes, temos Reagan e Thatcher e suas políticas neoliberais; temos a inflação descontrolada nos países "emergentes" (como Brasil e Argentina, que viriam a se curar curiosamente na mesma época, 1990-1994). Tínhamos ainda o domínio da economia estadunidense, aliada a uma política externa entreguista nos países dominados pela direita, que permitiram aos EUA crescer novamente, de cerca de 26% para cerca de 32% do PIB global. Como já sabiam os antigos, toda ação causa uma reação, e a degradação do nível de vida causada pelas políticas neoliberais do fim do século XX reforçou no povo a necessidade de mudança. Com a chegada da Internet, a hegemonia da grande mídia foi furada, primeiro lentamente, depois de forma avassaladora, fazendo a esquerda vitoriosa em regiões crescentes do planeta. Esse fenômeno culminou, no Brasil, com a eleição de Lula em 2002, quando começa a fase seguinte.
3) A partir de 2002, a participação dos EUA no PIB mundial cai de quase 35% para quase 25% em 2012. Uma queda de 10 pontos percentuais, ou uma redução de quase 30% em 10 anos! Que se deve em parte ao crescimento da China, que foi de 4% para quase 12% no mesmo período, ou seja, triplicou! E não sozinha, já que a esquerda recém-empossada fez com que muitas nações deixassem de ser o capacho dos EUA que eram nas mãos da direita, passando a negociar mais com o gigante asiático, e também umas com as outras, pobres com pobres, pois a solidariedade é mais comum entre os que têm pouco.
Agora resta saber se a podridão financeira antes dominada por FMI, Banco Mundial, Wall Street, Washington, FED, etc. será substituída por uma política mais plural ou se são, no fundo, todos farinha do mesmo saco. O futuro dirá, embora a propaganda tenda a dizer o contrário (a não ser que vc tenha metade dos canais orientais, e metade ocidentais, nos próximos anos, quão provável é isso? E mesmo que tenha, é preciso ter ouvidos para ouvir...)
Os dados são do Banco Mundial (http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.CD). Após a divisão dos dados de cada país pelos dados mundiais, a tabela final é exibida abaixo.
O arquivo com os cálculos pode ser obtido aqui.
Um gráfico mais detalhado, feito no software R (os anteriores foram feitos no LibreOffice), para alguns países e um período mais extenso, pode ser visto abaixo. Os países são BRA=Brasil, CHN=China, DEU=Alemanha, FRA=França, GBR=Grã-Bretanha (Inglaterra+Escócia+Wales), JPN=Japão, USA=Estados Unidos. As linhas verticais indicam intervalos de 5 anos. As linhas horizontais indicam intervalos de 1% do PIB mundial (o eixo Y está numa escala logarítmica para facilitar a comparação entre os países).
O arquivo csv com os dados também pode ser obtido aqui. O script do R que criou o gráfico acima, aqui.
Adendo
Caso alguém pense que o governo do PT "foi como outro qualquer" e que "apenas aproveitou o bom momento econômico deixado por FHC", talvez os gráficos abaixo mostrem a implausibilidade dessa ideia. Talvez não. Como se diz, "o pior cego é o que não quer ver" (alguns não querem ver nem mesmo as manipulações da mídia).
Índice de Gini brasileiro, segundo o Banco Mundial. Quanto menor o valor, menor a desigualdade econômica. Muitos têm apontado evidências mais diretas, como o fato de os pobres agora poderem ter equipamentos de TV, máquina de lavar, fazerem viagens e comerem em restaurantes. Os ricos contudo, talvez ilhados em suas torres de marfim, não vivem perto o suficiente do "povinho" para enxergarem isso.
Índice de Gini mostrado de forma diferente. É visível a abundância de miseráveis em 1999, bem como sua substancial redução em 2009.
Mas a luta continua.
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