Friday, February 23, 2007

Carnaval em Manaus

A banda ia se encontrar ao meio-dia, a certa altura da Djalma Batista. Cheguei lá e encontrei três conhecidos, que me explicaram que o ponto de saída do bloco fora transferido para uma praça no V-8, um pouco longe dali. Logo antes de vê-los tinha pensado em comprar um açaí, mas o bonitão que vendia só tinha sacos de um litro e nada mais, nem açúcar, nem copo, nem farinha. Aí não foi negócio, e tive que tomar o açaí noutro canto, pagando 529% mais caro. R$6,60 por 300 ml batido com gelo, num lugar burguesinho onde a garota do caixa nem me viu, e ainda cobrou 10% pelo serviço do garçom que apontou uma mesa e me trouxe a tigela. Ao invés de R$3,50 por um litro puro do açaí do peixe da esquina, gelado. Talvez todos ganhem quando eu pago mais caro, mas certos custos não me atraem. O açaí estava gostoso até demais, preferia que não estivesse tão bom, pra que eu pudesse desejar profundamente ter ajudado o moço pobre e bonito que vendia açaí barato sem muitas perspectivas.

De lá para o carnaval, o encontro mudou para a praça que eu já conhecia sem saber o nome, e continuo sem saber. O trio elétrico já se aquecendo, os produtores organizando a cerveja que acabava de chegar e era vendida dentro dos freezers nas pick-ups. A polícia vigiando as pessoas vestidas com seus uniformes da banda famosa de Recife, o Galo da Madrugada, que fazia, ao que parece, sua primeira incursão na "Madrugada" manauense. O Sol a pino. Suor às bicas, panos empapados, óculos escuros, toalhas, gelo, banhos de mangueira, céu limpo, poucas nuvens, a tarde apenas começando. Samba, suor e o consumo de cerveja eram contínuos, enquanto todos procuravam ficar um pouco sob a sombra das árvores da praça, até que o bloco saiu. As filas se acumulavam nas lojas de postos de gasolina, as pessoas esperando com suas latas de cerveja esquentando, reclamando, gritando num verdadeiro frenesi popular de galácticas proporções, as letras das músicas ecoando nos salões amplos e ventilados das lojas de conveniência, entre piadas e ofensas sem muita seriedade, mas com toda sinceridade.

O trio seguiu reto pela avenida e foi dobrando outras, roçou o shopping, retornou entre os canteiros gramados e passou por baixo de uma trincheira, deixando a multidão em verdadeiro alvoroço. Carros passavam na fila oposta, e uma multidão de rapazes uniformizados carregavam uma corda, e tentavam em vão conter os mais aventurosos que saíam a alcançar um e outro amigo que ficou preso lá na outra parte da multidão. E que multidão! Espremiam-se e dançavam e cantavam, caminhavam se arrastando na santa folia. Alguns amigos param aqui e ali, ora pra comprar duas garrafas que são levadas em uma lata, um copo e duas sacolas plásticas. De outra vez param num posto de gasolina para fumar um baseado. A polícia, ao largo, não vê. No posto a sombra do prédio, um lugar pra mijar, uma parede pra bloquear o vento, e dois doidos que bebem e se beijam e vão tirando a roupa e não parecem dar a mínima pra mais ninguém. Todos querem ser felizes.

Dali o carro ainda andaria muito. Passou por largas avenidas, árvores recém-podadas, gramados, mato nos lotes vagos e reentrâncias da cidade grande que ainda guarda um traço do passado verde.

Por fim o carro chegou ao destino. As pessoas ainda unidas ocupavam seus lugares, compravam comes e bebes nas diferentes lojas da praça de alimentação onde a caminhada ia caindo junto com a noite, saindo do dia para entrar na história.

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