Wednesday, February 21, 2007

De véus

Como incluir o nós em um diálogo com a pretensão de avançar fronteiras? Como ter essa pretensão sem pretender destruir essas mesmas fronteiras? As fronteiras, na verdade, são de corpos, não de idéias. Idéias custam caro, e podem ser pesadas. Livros são pesados E caros: contêm centavos de peso e o resto de idéias. Livros e idéias são, ou podem ser, perigosos.

Faz tremer governantes a idéia de que as idéias possam ser livres. A liberdade do corpo é fácil governar, a liberdade das idéias, não.

Por isso a TV é tão estúpida.
Por isso as rádios-comunitárias são perseguidas.
Por isso o lixo da educação.
Por isso os impostos, a religião, o roubo.

Roubam, acima de tudo, nossas idéias próprias, pessoais, privadas. Porque com elas somos mais fortes e concentrados no que queremos. Íntegros num ideal, somos invencíveis. Mas o ideal está corrompido. O ideal tornou-se utópico, além: novelas de luxo, igrejas de barro, deuses gasosos e ásperos.

Não apenas roubam as idéias, mas cultivam o que seria a erva daninha do pensamento: de que é errado, ingênuo, infantil pensar que ideais existem e devem ser cultivados. Que a melhor moral é a resignação da morte, a coletividade, a paz, a justiça de um governo corrupto, inconstitucional. Aprendemos já na escola que nossos líderes são covardes e cegos, e crescemos para nos tornar como eles: satisfeitos com tudo que alcançamos na vida, mas sempre dispostos a pisar em alguém (ou deixar que pisem) para conseguir mais um pouquinho. Como algum índio que, fumando o cachimbo da paz, assine um papel para poder dar uma talagada a mais a cada volta.

A sociedade e seus muitos véus.

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