Racismo, educação e formigas
"O homem é o lobo do homem", alguém disse um dia. Olhando para a foto acima, não percebemos a atitude de escravidão de umas pelas outras, mas é disso que o texto fala.
Na figura está escrito:
"Figura 17-7 Escravidão em formigas. Trabalhadoras da espécie escravizadora Leptothorax duloticus estão indicadas por setas; outras trabalhadoras nesta foto pertencem à espécie escravizada Leptothorax curvispinosus. Também presentes estão as crias das duas espécies em todas as fases de formação. A similaridade entre a formiga escravizadora e a escravizada é um exemplo da regra da proximidade filogenética que se aplica à maioria dos tipos de parasitismo social."
Parasitismo social? Espécies sociais que escravizam outras espécies é um fenômeno recorrente na natureza. Nós escravizamos (ou "adestramos") bois, porcos, cavalos e vários outros mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes, para nos restringirmos aos vertebrados. Entre formigas, este fenômeno parece ter surgido no mínimo seis vezes independentemente. Sempre entre espécies próximas (a regra da "proximidade filogenética").
"Darwin ficou fascinado pelas implicações da escravidão em formigas [tecnicamente chamada "dulosis"]. Em A Origem das Espécies ele pensou na primeira hipótese de como o comportamento se originou na evolução. Ele propôs que uma espécie ancestral começou a saquear outros tipos de formigas para obter suas pupas [larvas se transformando em adultos, imóveis como crisálidas de borboletas e fáceis de serem apanhadas e transportadas] como alimento. Algumas das pupas sobreviveram nas câmaras de armazenamento tempo bastante para emergirem como trabalhadoras adultas, sendo que aquelas que aceitaram suas captoras como parceiras de ninho sobreviveram. Essa adição fortuita à força de trabalho ajudou a colônia como um todo, e consequentemente houve uma tendência crescente, impulsionada pela seleção natural, das gerações seguintes saquearem outras colônias apenas com o objetivo de obter escravos." - E.O. Wilson, Sociobiology, p. 368.
Ora, nós também, depois de muito lutar com outros hominídeos similares a nós (Homo habilis, Homo erectus, Homo sapiens neanderthalensis, Australopithecus e toda uma árvore evolutiva com vários gêneros de hominídeos até retornarmos ao ancestral comum entre nós e os chimpanzés), começamos a domesticar outros animais. Há alguma diferença entre domesticação e escravização, no sentido praticado pelas formigas? Eu não vejo nenhuma. Da domesticação de galinhas e porcos, bois e cavalos, qual o tamanho do passo até a "domesticação" de outras pessoas, de grupos mais fracos?
A pergunta que faço aos sociobiólogos é: por que algumas espécies apresentam este comportamento escravizador de suas irmãs e primas evolutivas, enquanto outras não? O que separa esta linha tênue, frequentemente atravessada na natureza e na nossa própria espécie (neste caso, atualmente, entre raças, religiões e classes sociais diferentes)? Se nos lembrarmos que os relatos cristãos falam que escravos não eram humanos, e portanto não tinham alma nem mereciam o mesmo tratamento ensinado pelo Criador, ficamos mais próximos de perceber que é geralmente a cultura a justificar o instinto, e não este a seguir aquela.
Seria então a miscigenação generalizada da espécie o primeiro passo para eliminarmos o impulso primeiro que conduz ao racismo e ao aproveitamento de uns por outros? "Todos iguais, mas uns mais iguais que os outros", já lembrava Orwell. Ou o cosmopolitismo, a mistura de raças em grandes metrópoles, até que aprendam a tolerar-se mutuamente? Se o cosmopolitismo levar à miscigenação, talvez seja a resposta, mas a mim parece que o resultado é outro: raças predominantes em países economicamente dominantes tendem a morar nas regiões mais favorecidas das metrópoles, enquanto as autoridades aceitam criminalidade maior, menos planejamento, piores escolas, hospitais e cadeias onde vivem as raças dominantes nos países menos fortes economicamente. Como resolver o imbróglio? Educação (boa para uns e ruim para outros - ou seja, apenas mantém o abismo) ou miscigenação? Eu por hora, preliminarmente, gosto da segunda opção. (Não que desgoste da primeira, mas até que ponto, em quais camadas da realidade, o racismo prejudica a educação?)
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