Wednesday, January 13, 2010

Sol, praia... e peles brancas

Praia badalada, os gringos refletiam o Sol com muito mais limpidez que a areia. E quantos gringos! Mesmo os brasileiros que ali se encontravam eram mais gringos que os próprios! Preocupados de menos com o sentido da data comemorativa que quedava próxima, de mais com o que os outros pareciam (não) pensar deles.

A cidade de T. sequer é conhecida, apenas sua vila P. floresce na beleza de seu extenso litoral. Num município (T.) com pouco mais de dez mil habitantes, apenas P. abriga mais de 400 pousadas que, se não estão no mais alto nível internacional, ao menos não perderam o pouco que ainda lhes resta de benevolência e humanidade.

Nas ruas, o espetáculo é dantesco: a maioria branca desfila mentes infantis em corpos artificiais cobertos de grifes caras. Os nativos usam menos roupas, seja no Sol quase equatorial, seja à luz da Lua cheia, ao vento gentil da costa do nosso idílico país. Carros não são impedidos de atravessar a multidão massiça, mas ninguém dança ou canta, nem se beijam nem se fodem. Apenas andam, se olham, bebem e trocam mostras vãs de esperteza. Dali a menos de uma semana, a maioria deles terá conhecido apenas alguns restaurantes, a boate do momento e as praias óbvias, todas com acesso a carros e - se alguém não couber em um - caminhões.

O que mais me incomoda não é que alguns não consigam subir algumas dunas para dividir momentos espirituosos com os amigos - ao redor a mais limpa e sensual natureza. O que de fato me deixa doente é a maioria não apreciar mais isso.

Convenhamos, há poucas gerações TODOS conheciam e admiravam as belezas do mundo natural. Hoje, o número de pessoas que tem asco, ojeriza ou desdém em relação à Natureza parece aumentar sem remédio. São pessoas presas não apenas às cidades, mas principalmente às metrópoles. Arrotam não uma cultura universal, mas apenas uma cultura "moderna". Alguns vão além: "pós-moderna". Sempre pós, sempre vinculados tão somente aos laços europeus da cultura que despreza a terra dos índios e aborígenes de pele morena. Racismo, sempre o racismo e pouco mais.

A polícia proibiu festas na praia, para que o dono da boate local pudesse recuperar o investimento. O assunto turismo é introduzido por cifras, não por paisagens, não pela natureza. Boa parte, talvez a maior parte, dos estabelecimentos locais já pertencem a gringos. As escolas pagam mais a auxiliares de contabilidade que aos professores. Os honoráveis são enterrados com vista pro mar onde a poucos quilômetros morre-se de sede e de fome.

Não são apenas dunas aquilo que os gringos não escalam. Imaginar, propôr, discutir soluções plausíveis para questões importantes também passa longe do seu cardápio - mas até aí é natural que seja assim. O que mais me intriga é quando os próprios brasileiros, e justo os de melhor educação e melhores empregos, tomam sempre a porta da direita, não toleram conversas que de outra forma seriam construtivas, nada: almoçar num PF barato para ver como o povo almoça, andar até a próxima praia para ver como o povo anda, dormir sob o teto alheio para ver como o povo dorme, amanhecer longe da multidão para ver como o povo amanhece, andar com os vidros do carro abertos para saber que cheiro a terra tem.

Enquanto nada disso é feito, não se conhece nem o povo, nem o país, muito menos qualquer vislumbre de solução, quiça um verdadeiro problema. E, no entanto, são esses os donos das possibilidades.

Enquanto nossas elites babarem no caldeirão branquelo da velha europa e fechar os olhos à sua terra, ao seu povo e aos seus "índios", o Brasil repetirá esse eterno matraquear sobre si mesmo - isso enquanto ainda tivermos fôlego para tanto.

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