Thursday, August 13, 2009

Um pouco de China

"A expressão chinesa para designar amplo poderio nacional é Zonghe guoli, conceito fundamentado em recursos naturais, capacitação econômica, comércio externo e potencial de investimentos, altos níveis de desenvolvimento social, capacitação militar, um nível elevado de eficácia governamental e habilidade diplomática."

- Parag Khanna, O Segundo Mundo, p. 393.


Zonghe guoli

綜和 = zong3he2 = total; sum
綜 <- 絲 + 宗 示 = shi4 = show; notify; instruct; teach;
宗 = zong1 = school; sect; purpose; model; ancestor; family; M for itens; cases; ancestors; religion
綜 = 综 = zong4 = aggregate; sum up; synthesize;
(metade de 絲) = threads; silk; fine thread; (fio);
和 = he2 = gentle; mild; kind; harmonious; on good terms; peace; sum; draw; tie; [denoting relations, comparison, etc.]; and; Japanese;
和 = han4 = and;
和 = he4 = join in the singing; compose a poem in reply to a friend, using the same rhyme sequence;
和 = huo2 = mix (powder) with water, etc.;
和 = huo4 = mix; [measure word];

国 = 國 = guo2 = country; state; nation;
力 = li4 = power; strength; ability; force; physical strength; do all one can; make every effort;
立 = li4 = stand; erect; set up; found; establish; exist; live; upright; vertical; immediately;
利 = li4 = sharp; favourable; advantage; benefit; profit; interest; do good to; benefit;
俐 = li4 = smooth; active; clever; sharp;
例 = li4 = example; instance; precedent; case; instance; rule; regulation; regular; routine;
历 = 歷 (with foot) = li4 = go through; undergo; experience; all previous (occasions, sessions, etc.); covering all; one by one;
历 = 曆 (with sun) = li4 = calendar; era;
厉 = 厲 = li4 = strict; rigorous; stern; severe;
丽 = 麗 = li4 = beautiful;
俪 = 儷 = li4 = pair; couple;

綜和國力 = amplo poderio nacional

"O verdadeiro milagre do desenvolvimento chinês ainda está, na verdade, dando seus primeiros passos. Em 1980, a China era uma terra devastada pós-Revolução Cultural, com dois terços de sua população vivendo em territórios áridos e ressequidos de terrível desolação (...). De um universo inicial de 500 milhões de pessoas ivendo na pobreza absoluta, restam hoje 50 milhões sobrevivendo com 1 dólar por dia, e a China já não aceita ajuda internacional para reduzir a pobreza. Mas, na realidade, o país não precisa soerguer 1 bilhão de pessoas, é mais ou menos como se estivéssemos falando de balsas, cada uma simbolizando uma família. Em cada balsa, os membros da família cuidam uns dos outros, daí resultando níveis muito mais reduzidos de populações sem teto e de mendigos - além de muito mais ordem e dignidade - do que num país típico do Terceiro Mundo como a Índia.
"As províncias litorâneas da China vêm recebendo até hoje uma proporção esmagadora - quatro quintos - do total de investimentos estrangeiros, mas essa impressionante estatística é intencional: o capitalismo foi chegando à China por etapas, para poder ser gerido gradualmente. No entanto, o custo dessa abordagem é a desigualdade. Contingentes de migrantes aparecem nas grandes cidades litorâneas como se chegassem a um novo mundo cujas características nem sequer poderiam imaginar. Muitos reviram montes de lixo para ganhar mais dinheiro do que ganhariam como agricultores, enquanto as elites tratam simplesmente de ignorá-los como se fossem manadas. Como acontece no Brasil, a desigualdade está diretamente ligada ao aumento da criminalidade. A prefeitura de Cantão mobilizou centenas de policiais a mais para o patrulhamento das ruas. Entretanto, como a China está atacando de frente seu problema de desigualdade em vez de ficar emperrada na questão da criminalidade, transformou-se no modelo que o Brasil acompanha mais de perto. (...) Em vez de ficar debatendo as estatísticas, os dirigentes chineses sabem que, embora o topo dessa sociedade dispare como um foguete, o fundamental é soerguer a base."

- Parag Khanna, O Segundo Mundo, pp. 399-400. (Grifo meu.)

"Xangai está se transformando na maior metrópole do mundo, deixando para trás Nova York, Londres ou São Paulo. A administração municipal faz planos com 50 anos de antecedência*, o que significa que, apesar de sua população de 26 milhões de habitantes (13 milhões de nativos e um número igual de migrantes), sempre aumjentando, ela não cairá no tipo de amontoado caótico das megalópoles latino-americanas, devendo permanecer entre as cidades ordeiras, como Tóquio.

- Parag Khanna, O Segundo Mundo, p. 404

"O confucionismo justifica amplamente os pilares gêmeos do capitalismo de Estado e da democracia social adotados pelo partido, enfatizando a estabilidade, o respeito à autoridade, a meritocracia e a liderança pelo exemplo. (...)
"Quaisquer que sejam os ajustes ideológicos promovidos pelo partido, permanecem de pé vários tabus invioláveis: nada de liberdade religiosa para os estimados 40 milhões de cristãos e 30 milhões de muçulmanos (conhecidos como hui) da China, o que jamais foi permitido por qualquer imperador. A China sabe muito bem o que é o vício do ópio em proporções de massa, e não permitirá que o "ópio das massas", denunciado por Marx, se dissemine livremente. Nenhuma concessão será feita em matéria de integridade territorial, inclusive no que diz respeito a Taiwan, ao Tibete e a Xinjiang - e em todos esses casos, é maior do que nunca o poder do governo de subjgar. O maravilhoso filme de propaganda Herói, um dos mais vistos em toda a Ásia nos últimos anos, traduz de forma artística a importância da unidade através dos reinos da China.
"O partido é mais poderoso, sofisticado e complexo que qualquer dinastia chinesa da história. Em vez de imperadores infantis para os quais a própria nação era uma propriedade pessoal, temos imperadores com MBAs que pensam em termos de planos de negócios - e estão cooptando as elites empresariais para funções de assessoria. Na era pós-Deng, não existem mais figuras totêmicas estendendo sua aura a acólitos obsequiosos, e sim uma nova geração de tecnocratas competindo por influência de forma mais ou menos meritocrática - e com mais obrigação do que nunca de prestar contas. É possível que logo os funcionários do partido passem a ter mandatos de duração preestabelecida."

- Parag Khanna, O Segundo Mundo, p. 408

"Um século atrás, Theodore Roosevelt proclamava que 'a era do Atlântico encontra-se em seu auge e logo terá esgotado os recursos à sua disposição. A era do Pacífico, destinada a ser a maior de todas, está apenas alvorecendo'. A era do Atlântico foi liderada pela Europa e depois pela América. A era do Pacífico será liderada pela China - e por mais ninguém."

- Parag Khanna, O Segundo Mundo, p. 335

"A expressão 'ascenção pacífica' (heping jueqi) foi criada por Zheng Bijiang, da Escola Central do Partido. Oficialmente, a doutrina seria posteriormente rebatizada de 'desenvolvimento pacífico', para ficar parecendo mais benigna e enfatizar a maior atenção da China com sua política interna, sem enviar qualquer sinal ambivalente de tolerância quanto à independência de Taiwan. Essa política subentende a idéia de que o excesso de consumo e a poluição são perigosos e ineficazes, de que a expansão e a agressão, em última análise, são contraproducentes, e de que o desenvolvimento econômico e social deve ser equilibrado."

- Parag Khanna, O Segundo Mundo, p. 338

he2ping2 jueqi

和平 = peace; mild;
和 = he2 = gentle; mild; kind; harmonious; on good terms; peace; sum; draw; tie; [denoting relations, comparison, etc.]; and; Japanese;
平 = ping2 = flat; level; even; smooth; on the same level; in a draw; equal; fair; impartial; calm; peaceful; quiet; average; common; pacify; put down; suppress; equal;

崛起 = rise (as a political force); (of a mountain, etc.) rise abruptly; suddenly appear on the horizon; rise suddenly; stand out;
崛 = jue2 = rise abruptly;
山 = shan1 = hill; mountain; anything resembling a mountain;
屈 = qu1 = bend; crook; subdue; submit; yield to; be in the wrong; wrong; injustice; submit, humiliate; (屈原 = Qu Yuan - Warring States poet who committed suicide to protest government policies);
原 = yuan2 = primary; original; former; unprocessed; raw; excuse; pardon; level; open country;
起 = qi3 = rise; get up; grow; appear; begin; start; remove; extract; draft; build; set up; case; batch; group;
起 = qi3 = [used as a complement after a verb indicating upward movement or beginning of an action]; [used after a verb together with 得 (possibility) or 不 (not) as meaning "can afford" or "cannot afford"];


"A Europa é um mercado maior para as exportações asiáticas do que a América, e os asiáticos vêm aumentando a participação do euro em suas enormes reservas cambiais para fazer frente à desequilibrada economia americana. Em toda a Europa se encontram acadêmicos, estudantes, jornalistas, músicos e turistas chineses. Verdadeiras ondas de empresários chineses hospedam-se em hotéis baratos da Alemanha e da Europa Oriental, passando semanas em busca de parcerias para exportar ainda mais produtos chineses.
"Mas a China e a Ásia estão apenas absorvendo conhecimento ocidental para acelerar a construção de uma ordem oriental. Os céticos americanos argumentam que um 'concerto asiático' é impossível, em virtude da persistência de uma série de rivalidades, mas a confiança dos asiáticos já evoluiu de tal maneira que a América só pode se manifestar quando convidada: em 2005, os Estados Unidos simplesmente não foram convidados para a primeira Reunião de Cúpula do Leste Asiático, realizada em Kuala Lumpur. À medida que essa comunidade evolui de um clube geográfico para a condição de principal foro para o debate das prirodades asiáticas, a maioria dos protagonistas regionais passa a encará-la como uma chance de se descartar, de uma vez por todas, da influência ocidental. Como dizia um veterano diplomata malásio sem sarcasmo: 'Criar uma comunidade é fácil entre amarelos e pardos, mas não com os brancos.'"

- Parag Khanna, O Segundo Mundo, p. 341. (Grifo meu.)

"Os 'valores asiáticos' de liderança unificada, consenso e harmonia social dificilmente poderiam ser mais desacreditados do que a democracia, o capitalismo e o individualismo americanos hojue, aumentando a oferta de modelos alternativos para o restante do Segundo Mundo. (...)
"'Nós estamos vendo como o materialismo levou ao excesso de consumo e ao desgaste da democracia americana', afirmou um estudante chinês que é líder de uma organização da juventude do partido. 'O que queremos é um sistema de governo po meio do consenso e do império da lei.' No Leste Asiático, as tentativas de democratização empreendidas pelo Ocidente bateram num muro ainda mais alto do que no mundo árabe. Os estudiosos ocidentais prevêem que a abertura econômica levará à democratização, mas não só os governos asiáticos se alinham com as elites para impedir qualquer desafio ao seu controle sobre os bens públicos e a lei, como a democracia está em demanda ainda menor, pois muitos países asiáticos efetivamente contam com bons líderes (junzi), que não querem se transformar no príncipe daquela parábola confuciana, que está errado mas não é contestado, levando o país à ruína.
"O 'pacto asiático' oferece sociedades abertas mas organizações políticas fechadas, recolocando a democracia em seu devido lugar de meio para alcançar um fim - não a mais alta virtude, mas simplesmente um dado entre muitos outros na agenda. Não deixa de ser irônico que o grande rival do Ocidente venha de uma meritocracia de elites de inspiração confuciana, já que essa idéia está firmemente assentada na República de Platão, que preconiza o governo de sábios reis filósofos.

- Parag Khanna, O Segundo Mundo, pp. 345-346

君 = jun1 = monarch; sovereign; supreme ruler; gentleman; Mr.;
子 = zi3 = son; seed; egg; person;
君子 = junzi = a man of noble character; gentleman;

2 Comments:

At 3:18 PM , Anonymous Anonymous said...

Embora concorde em parte com seu argumento, acho que vc idealiza demais a idéia da China pelo que lê na filosofia chinesa.

Não sei se vc conheceu algum chinês na vida, mas eu conheci alguns bastante ingênuos/ignorantes. A mão-de-obra mais barata do mundo está lá e a grande maioria deles não passa de robôzinhos tais quais grande parte dos brasileiros. Nenhum dentre a meia-dúzia dos chineses que conheci jamais me falou qualquer coisa sobre Confúcio; ou algo que o valha.

Vc precisa ir lá pra ver e sentir qual é. O google é censurado fortemente lá e o governo não admite críticas. As olimpíadas de Pequim foram marcadas por protestos e deturpações de informações sobre o governo. Os tibetanos há muito tempo sofrem e são mal tratados pelo governo.

Não sei se um mundo governado por chineses seria melhor do que um mundo governado por americanos. Embora provavelmente trocar bosta por merda dê no mesmo.

Acho que vc deveria tentar conhecer mais antes de defender este ideal com tanto ardor. Vc pode estar dando armas para os bandidos...

China não é filosofia chinesa, da mesma forma que o ocidente não é a filosofia ocidental. Uma coisa é a idéia... outra, o pragma. Tenho a impressão de que vc está muito platônico... é preciso aterrizar neste mundo de erro e imperfeição.

[]s!
Moi encore

 
At 7:41 PM , Blogger Rodrigo said...

O Ocidente tem um grave problema filosófico: ficou dois milênios emperrado no cristianismo, para em seguida se libertar dele e ficar sem qualquer ideal.

O Oriente tem aí uma grande vantagem, sua filosofia funciona (ao menos quando comparada à nossa). O taoísmo e o confucionismo são muito melhores, como filosofia de vida, que o cristianismo ou o "pós-modernismo". São antigos e continuam vivos e atuantes.

Os chineses que vc conheceu são os que saíram da China em busca de riqueza ou especialização para o mercado, não? Os técnicos e biólogos brasileiros que conheço também são bastante ingênuos, e raramente dizem algo sobre Sócrates ou Nietzsche. Logo, suponho que os bons chineses devem estar na China, da mesma maneira que conheci ótimos brasileiros no interior, não nas capitais. Estes viviam felizes próximos à Natureza, e não tinham nada a buscar em Manaus ou BH.

Não é que eu idealize demais a China ou o Oriente. Apenas sinto que temos muito mais a aprender com eles do que com a Europa e Estados Unidos. Sinto, inclusive, que a mitologia indígena brasileira é muito melhor que os valores dominantes nas metrópoles ocidentais, e ainda que a mitologia indígena está muito mais próxima da filosofia oriental do que qualquer uma delas de nossa sociedade. Quanto à práxis, estou estudando para ir lá ver onde e como é.

De qualquer maneira, nosso governo admite críticas? Admitindo, alguém as faz? Você ainda acredita na democracia num mundo governado pela mídia e manadas de ignorantes votantes? Nosso nordeste não é o Tibet deles? Nossos jornais de péssima qualidade, manipuladores e desinformadores não são tão ruins ou ainda piores que a censura deles?

[]s!

 

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