Sunday, May 29, 2011

O erro mais grave da agricultura

"A revolução industrial ao criar uma nova demanda - a demanda da máquina - e um intenso aumento da população urbana, tem acarretado uma pesada carga sobre a reserva de fertilidade em todo o mundo. Está ocorrendo uma diminuição muito rápida do nível de fertilidade dos solos. Essa expansão populacional e industrial não teria tido tanta influência caso os resíduos urbanos e industriais estivessem retornando aos solos. Mas isso não tem sido feito. Em vez disso, não tem sido respeitado o princípio agrícola que estabelece que, para um acelerado crescimento, deve haver uma acelerada decomposição. A agricultura está desequilibrada, falta a ponte para unir as duas metades da roda da vida. Essa ponte foi substituída pelos adubos artificiais. Os solos do mundo inteiro estão sendo arruinados ou estão sendo lentamente envenenados. Em todo o mundo o nosso mais importante capital está sofrendo uma rapinagem. A restauração, assim como a manutenção da fertilidade do solo, tornaram-se um problema universal."

"O lento envenenamento do solo pelos adubos artificiais é uma das maiores calamidades que tem sido infligidas à agricultura e à humanidade."

"A conexão existente entre um solo fértil e culturas sadias, animais sadios e por último, mas não menos importante homens sadios, deve ser amplamente divulgada e reconhecida. Todas as organizações e entidades, todas as comunidades que dispuserem de área devem ser encorajadas a produzirem as suas próprias verduras e frutas, leite e laticínios, cereais e carne para que fique bastante clara a importância dos alimentos produzidos num solo fértil. Um importante item na educação, tanto em casa, quanto na escola, deve ser o conhecimento acerca da superioridade quanto ao sabor, aroma e qualidade dos alimentos produzidos com húmus quando comparados com aqueles produzidos a partir de adubos industrializados. (...) Os alimentos deverão ser classificados, comercializados e distribuídos de acordo com a forma como o solo é adubado. As comunidades urbanas (que no passado prosperaram às expensas da fertilidade do solo) deverão unir forças com a área rural inglesa (que tem sofrido a exploração) para que seja possível restituir aos solos a adubação adequada de que necessitam (...) todos os que estão de alguma forma relacionados com o setor agrícola - proprietários, fazendeiros, trabalhadores - devem receber auxílio governamental para que possam restaurar a fertilidade de seus solos. Devemos tomar todas as medidas para evitar que os campos do império sofram uma exploração meramente financeira. Isso é essencial, pois o principal patrimônio é o ser humano e uma agricultura sadia praticada por vigorosos camponeses é o mais seguro suporte do futuro da nação. Se falharmos com o compromisso de conciliar as necessidades da população com as questões financeiras, acabaríamos por levar ambos à falência. Precisamos evitar os erros do Império Romano."

- Sir Albert Howard, Um Testamento Agrícola. Ed. Expressão Popular, 2007, pp. 321-323.

Embora tenha sido publicado originalmente em 1943, o trabalho deste grande homem dotado de ambos, teoria e prática, é hoje mais atual que em sua época. Isso porque por toda parte o lucro rápido foi permitido ao lado do distanciamento da sabedoria antiga, causando a degradação dos solos e o consequente avanço da degradação ambiental. A questão ambiental brasileira precisa com urgência ultrapassar o raso território das Unidades de Conservação e Códigos Florestais, e voltar sua atenção para a maneira como nossos solos e rios estão sendo tratados em todo o território nacional.

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