Monday, July 25, 2011

Por que "ambientalismo"?

Não se fala em democracismo, em justicismo ou respeitismo; mas fala-se em socialismo e capitalismo, politeísmo e monoteísmo. Esses -ismos referem-se a sistemas de crença, onde a escolha entre uma e outra opção (geralmente excludentes entre si) não costuma se basear numa confiança empírica sobre qual sistema é melhor, mas em algo que mais se assemelha a um preconceito. Já democracia, justiça e respeito são tidos como valores "universais", bons em si mesmos, sem concorrentes concebíveis.

Assim, parece clara a intenção por trás do termo "ambientalismo": nos fazer crer que se trata de uma "escola de pensamento" como qualquer outra, uma religião se preferirem. É uma noção equivocada e vil, entretanto. Como se crianças criadas em apartamentos estéreis, cercadas de objetos artificiais apenas, pudessem ser tão sadias e felizes quanto aquelas com acesso a rios limpos, aves, árvores, cachoeiras e montanhas. Não há concorrente concebível para a Natureza, por mais que nos ensinem o contrário.

Se assim não fosse, não encontraríamos condomínios de luxo cercados de florestas particulares, reservas de caça restritas à "nobreza", cemitérios-parque, fazendas e sítios restritos às elites financeiras, especulação, êxodo rural e luta pelo acesso à terra em muitos países (e nos países onde essa luta não se vê, é geralmente sinal de que a mesma foi exportada).

As mesmas fontes que falam de um "discurso ambientalista" costumam apelar para a falácia do 8 ou 80: os "ambientalistas", contrários ao "progresso", parecem preferir que todos voltássemos à idade da pedra. Como isso seria inconcebível, concluem - erroneamente - que a destruição ambiental é o preço inevitável a se pagar pelo "desenvolvimento".

Ora, se assim fosse, os ricos deveriam ser os primeiros a asfaltar suas propriedades no campo. Se não o fazem, é porque a Natureza tem um valor intrínseco, assim como o respeito, a justiça e a democracia. Se protegem suas fazendas, mas aceitam a destruição ambiental longe de suas casas, trata-se de pura injustiça, rapina ambiental.

Uma estrada duplicada entre duas grandes metrópoles pode ser aceita como inevitável, mas o que dizer da destruição do solo pelo uso irresponsável de substâncias químicas, quando há alternativas mais sustentáveis?

O que se esconde por trás do rótulo "ambientalismo", portanto, é uma busca por justiça ambiental, onde o enriquecimento de alguns não cause o empobrecimento do ambiente onde vivem, pescam, caçam, colhem e se divertem muitos. Não é, portanto, um modismo, um achismo, muito menos uma "frescura" ou um "passatempo". Não se trata apenas de opinião, como transparece no tom daqueles que vieram para confundir - a não ser que tratemos a própria ideia de justiça com essa relatividade crescente que vemos assolar nossa civilização e ofuscar a busca pelo entendimento comum, pelo consenso. E aqui fica claro que o estranhamento que a palavra "consenso" causa hoje é um sintoma de que aqueles que roubam o ambiente alheio têm poder suficiente para redefinir as palavras, moldando assim nossa forma de pensar, e principalmente - para conveniência deles - de NÃO pensar.

2 Comments:

At 1:23 AM , Blogger carmensampaio.blogspot.com said...

Rodrigo, estou adicionando você nos meus favoritos.
Só pra constar, tenho apenas 6 favoritos. E desde 1993 tenho internet. Ou seja; tu é bompácarambah!

 
At 5:47 PM , Blogger Rodrigo said...

Carmen, seu comentário veio jogar uma luz num blog que andava com a sensação de falar às paredes.

Muito obrigado mesmo! E grande abraço!

 

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