Friday, December 01, 2006

Descartes errou

Êxtase profundo? Como pode a profundidade se debruçar sobre a simplicidade? O êxtase origina-se no simples. Talvez não seja o êxtase profundo, e sim o reflexo da superficialidade, a proximidade da linha d'água e do infinito celeste, de ares superiores, vibrantes, nem quentes nem frios, atemporais, afísicos, incendiantes das paixões que jazem na antiga memória coletiva da humanidade, de um tempo em que a ausência de palavras pesava como a atmosfera, e todo desejo, toda dor, todo impulso e todo prazer eram um, tudo se sentia, sem se tentar explicar, sem se deformar o significado atribuindo-lhe palavras, sem essa luta pelo sentido, essa auto-agressão da consciência, essa luta impossível que hoje nos sobrecarrega a vida de contrastes tênues, de irrisórias nuances, imprecisas delicadezas, sofisticadas e inúteis, a nos arrastar por labirintos auto-criados, férteis e ramificadas árvores onde se perde a unidade do que se sente, e se desbota o fulgor da emoção genuína, original, divina.

Sinto, logo existo.

1 Comments:

At 9:11 AM , Blogger Flávia Santos said...

explico: das formas de se desdobrar no outro e em si.cada um tem o olho que lhe cabe.

 

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home