Condenados a sermos livres
Existem golpes duros na vida. Um deles é descobrir que amigos vêm e vão, poucos ficam. Outra coisa que assusta é a solidão. Saímos de casa com toda a juventude no peito, coragem e decisão, e pouco a pouco vamos nos vendo menores, num mundo maior e mais difícil, mais complicado. Os seus amigos vão se casando, você vai conhecendo e convivendo com gente mais nova, até ver que qualquer 3 anos já nos deixam oriundos de outra cultura, outra época, outros brinquedos, outra televisão. E os amigos casados agora já não fazem as mesmas coisas que fazíamos quando éramos todos solteiros. E os colegas de repartição não têm necessariamente o que admiramos em nossos amigos. Muitas vezes saio sozinho, a percorrer o mundo conhecendo os outros, mas o fator "peso" sempre se impõe, e é difícil manter uma amizade assim nova, assim espontânea como milhares que surgem todas as noites, em todas as avenidas e bares, pois quanto mais velhos mais estranhos ficamos, exigentes, nos consideramos mais sábios, mas perdemos a sabedoria da inocência, a facilidade de nos igualarmos ao próximo, de conquistarmos empatia. Antes fazíamos amigos com maior facilidade, ou talvez seja o colégio que aja como um presídio e nos ensine a nos tolerarmos, por pura falta de opção. Antigamente os homens eram amigos de batalhas, as mulheres amigas de trabalhos braçais. Hoje somos todos amigos de mesa de bar e de mesa e cadeira. Como anseio por um tempo de homens livres, de homens e mulheres ao
ar-livre, sem paredes e aparelhos de ar, sem portas eletrônicas e elevadores. E quanto mais anseio este mundo mais me canso e me decepciono com o nosso mundo de fato, numa bola de neve que talvez nunca acabe, e me torna mais e mais distante, mais fugitivo, mais condenado à liberdade.
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