Tuesday, September 09, 2008

A quem fica

Não tenho medo da morte, nem sei se tive. Não é esta que outros chamam "passagem" uma das raras coisas certas neste mundo? Quando nem mesmo o próprio mundo pode dar-se por certo! Não, não tenho. Nunca tive. Um dia se há de morrer, não é? E, quando chegar o dia, vou olhar para trás e pensar comigo mesmo (talvez já esteja fraco pra dizer em voz alta, ou quem sabe não estarei sozinho?); pensarei olhando para trás, no passado: vivi cada dia no presente, amei e desamei, traí e fui traído, sorri e chorei, aprendi e ensinei, que mais há para se fazer?

Não sou desses que dá à morte nomes pitorescos, suaves, hiperbólicos - passagem, transmigração, reencarnação. Aos meus ouvidos tais ........ soam covardes, como se a falta de coragem de fazer em vida o que se quis impusesse a necessidade de outra chance. Mas os anos passam... e a juventude que se transforma em maturidade chora o que não foi, e que se torna a cada ano mais improvável. Dessa forma choramos sonhos não alcançados, em vão. Se em vão, o melhor é não chorar. O melhor acordo que podemos fazer com o tempo é vivê-lo, navegar os altos e baixos dessa jornada com a destreza de um bom capitão, adquirindo experiência a cada viagem, aprendendo a evitar os rochedos e parando nas praias ensolaradas onde nos recebem com alegria e festas.

Quando o barco, por fim, começar a afundar, chamarei minha tripulação para a derradeira festa, para enchermos as canecas enquanto a água invadir os porões, e brindarmos e bebermos enquanto houver energia -- até que o Sol olhe para baixo e reconheça que jamais houve nesta terra criaturas que com tanto apego viveram, e com igual desapego morreram.

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