Tuesday, October 13, 2009

Idade da pedra, idade do ferro

Quando finalmente me cansei da floresta, um dos motivos mais fortes foi estar cercado por uma cultura alienígena. Em meio à maior área naturalmente rica do planeta, onde ainda povos ignorados repassam seu vocabulário, cultura, tecnologia e arte às novas gerações, quem domina é ainda a mesma moral cristã que assola meio mundo. Como já dizia Bob Marley, "dois mil anos de história não serão extirpados tão facilmente". Concordo com ele, e temo pelo pior: que a moralidade mais falsa de que tenho registro não possa ser extirpada de todo.

Cheguei na Paraíba há quase um mês, e me arrepio quando percebo que aqui as coisas podem ser (parecem ser) ainda piores. Por todos os lados, as promessas de alívio fácil à dor e à angústia. Nos círculos acadêmicos, descubro que os corredores da filosofia foram novamente tomados pela metafísica. Quantas partes da população mundial passam fome? Quantas passam sede? Quantas não têm onde morar, foram expulsas de seus territórios por outros bandos, outras etnias, outras religiões, por catástrofes naturais? Quantas partes da nova tecnologia servem à humanidade, e quantas servem apenas aos seus inventores? Como conciliar quantidade com qualidade de informação? Com tantos problemas concretos por resolver, e os acadêmicos discutindo metafísica?

Se no passado, antes do avanço da ciência, o lema dominante era por Cristo, em Cristo, para Cristo, agora que as mentiras do cristianismo foram expostas a saída dos dominadores ideológicos foi adestrar estudantes de humanas pelo novo lema: qualquer moral é relativa; não existe moral melhor ou pior; cada um no seu quadradinho. Tornou-se impossível discutir com um acadêmico desses, pois qualquer valoração torna-se uma ameaça, um anacronismo. Não se discute mais baseado em lógica, mas numa espécie de moda, e a moda agora é não atribuir valor a coisa alguma. Se vivêssemos em uma pequena ilha (e não vivemos?), a população da metade sul poderia adotar como moral que as árvores devem ser todas derrubadas para a confecção de tótens, enquanto a população da metade norte poderia adotar como moral que as árvores devem ser protegidas pois a vida de toda a ilha depende delas. Qual a mentalidade dominante por aí? (Pergunte ao seu redor.) Que toda moral é igualmente válida, e enquanto reflexo da cultura de um grupo tem o mesmo direito à existência que qualquer outra moral de qualquer outro grupo. Não se valoriza mais a vida, mas culturas! Não se valoriza mais as pessoas, mas os seus preconceitos. "Eu posso estar errado, mas exijo o direito de permanecer errado. Estou errado, mas meu erro é minha cultura, e ninguém tem o direito de me corrigir!"

A continuar assim, estamos mesmo ferrados.