Sunday, November 22, 2009

Universos e Macacos

Acho que podemos pular aquela parte do "só sei que nada sei". Hoje sabemos bastante, e várias coisas com uma riqueza de detalhes, com uma acuidade visual impensável há alguns séculos - ou mesmo décadas. Nosso problema hoje é outro: o que mais descobrir? Tudo? Para onde quer que olhemos, o Cosmos parece infinito. Na vastidão do espaço reina o mais absoluto mistério. Na intimidade do átomo, pesquisas cada vez mais proibitivas apenas arranham a superfície do desconhecido. Estamos entendendo, talvez pela primeira vez, que jamais alcançaremos os extremos dos quais não fazemos parte. Mas... e este mundo do qual fazemos parte? Onde somos mais uma criatura disputando imemoriais batalhas ecológicas? Onde ainda lutamos para matar a fome, onde ainda modificamos o solo que usamos, onde geramos erosão, poluímos e esgotamos estoques pesqueiros?

Outro dia mesmo o "Ocidente" descobria os "Índios". Hoje a maioria dos "índios" foi assassinada, a malária e o preconceito ainda matam, a insensatez monoteísta alimenta guerras e premia a ignorância. Podemos até ter chegado a Marte, mas a distância à China praticamente não mudou. Rotulamos os outros de exóticos e até bárbaros, mas nos olhamos no espelho mais e mais de lado... engordamos e, ao invés de tentar voltar à boa forma, passamos a ensinar nas escolas que "boa forma" é algo totalmente relativo. Mas... espelhos? Quem tem ainda espelhos?

As linguagens mundiais que a humanidade concebeu e desenvolveu com carinho e cuidado (lógica, ciência, verificabilidade) são profanadas e desprezadas em nome de maiores lucros. Os próprios cientistas que deveriam estudar o ser humano só fazem descrever variações, e a maioria não distingue um "antes" e um "depois" nessas variações. Não se distingue mais o que é humano e o que foi empurrado por multinacionais. Descobriu-se há quatro décadas que o leite em pó faz mal a bebês, mas a Nestlé continua abarrotando seu cofre de lucros... Nada mais a descobrir? Ou tudo ainda, o céu estrelado? Ou simplesmente não existe essa coisa que chamamos conhecimento? O que é a ciência afinal, mero passatempo de crianças ricas?

Enquanto isso, a TV martela todos os dias em nossos olhos e ouvidos que devemos crescer, crescer, CRESCER! Todo crescimento será sustentado (sustentável?), desde que o próximo ministro não deixe de crescer e nos fazer crescer e crescer! Como toda criatura orgânica, nós também temos uma origem, um desenvolvimento e uma maturidade. Enquanto a biologia estiver solta no espaço, e os estudos sobre o humano e nossa sociedade desamarrados dela, acreditaremos no que quer que nos digam, no que quer que grandes pensadores tenham escrito. Compararemos os escritos de um grande cérebro com os de outro, apenas para citar ambos e nos formarmos, nós também, como grandes acadêmicos...? Até onde levaremos adiante esta mentira? Temos todo o tempo do mundo, mas o mundo nos dá cada vez menos em troca, e os miseráveis se acumulam pelas estatísticas... Ainda bem que não podem entrar em nossos prédios com vigias e cancelas. Porque quando entrarem, vamos ter que ficar algum tempo sem olhar para as estrelas... e lhes dar alguma satisfação. Mas já não passou da hora?