Denúncia do pós-modernismo como arma cultural da direita política contra os interesses do povo
As palavras há muito são armas que podem ser usadas para o bem e para o mal. Ordens de faraós para escravos erguerem tumbas gigantes! Quanta Vida desperdiçada por uma crença e um poder! Hoje nossa civilização, também dominada pelo fantasma do “uma crença, um poder”, considera tais tumbas maravilhas louváveis. É mais uma arma cultural contra os interesses do povo.
Mais antigas que as pirâmides são os usos da mentira para benefício próprio. Fala-se da “corrida armamentista” entre a mentira e sua detecção que deve ter acelerado a evolução da nossa inteligência, bem como do auto-engano, que nos permite melhor enganar os outros. Nossos músculos faciais, igualmente desenvolvidos, já apontam para uma evolução da empatia, compaixão e solidariedade. Somos mesmo “paradoxais”, mas uma observação mais de perto mostra que o paradoxo é aparente.
O mundo é trágico, no sentido da tragédia grega. O bem e o mal andam juntos, a Vida precisa da Morte para reciclar a matéria. Para nos alimentarmos (nós, animais), outro ser deve morrer ou ser parasitado. Logo, não há paradoxo.
As mentiras cresceram na mesma proporção das sociedades, embora não esteja claro se todas as sociedades grandes mentem igual; a evidência parece indicar o contrário. Quais são, então, as mentiras que hoje escravizam as pessoas na nossa civilização?
O culto ao trabalho e a promessa de uma vida perfeita após a morte, para os obedientes às “regras” ditadas pelos líderes. Poderia haver fórmula mais simples de escravidão? E o avanço histórico dos monoteísmos mostra a capacidade reprodutiva dessa simplicidade. Assim atravessamos vários séculos, até a chamada “ciência moderna”, que começou a enfraquecer o poder dessa liderança escravagista com Galileu, Kepler, Newton, entre outros. Mas o tiro de misericórdia contra o monoteísmo veio com Darwin e Wallace e a teoria da seleção natural. Se antes a explicação da nossa intrincada complexidade exigia criadores inteligentes, agora a Natureza sozinha, indiferente, inconsciente, sem intenção alguma, “invisível” dá conta do recado. Massas de escravizados às arbitrariedades religiosas, às quais não podiam compreender, mas apenas crer (“creio porque é absurdo”, disse Tertuliano), foram libertadas das trevas de crenças absurdas para um mundo inteligível, se não dotado de sentido, ao menos de uma lógica, ainda que sem compaixão. Mas nós temos compaixão para dar e vender – somos animais sociais – ou pelo menos deveríamos ter, então o novo mundo sem olhos no céu guarda uma nova e serena beleza. Há menos motivo para medo.
Enquanto isso, e desde milhares de anos, outros povos desenvolviam outras mitologias. Moradores do que viria a ser chamado América povoavam seu hábitat de deuses, de descrições da lógica do mundo. E classificavam os animais, com quem se identificavam. Do outro lado do Oceano, outros povos desenvolviam outras mitologias, e seus animais eram bem maiores, sendo igualmente importantes e respeitados com seus respectivos mitos (conhecimentos). Cidades já existiam, mas dificilmente se igualavam aos imensos, caóticos, sujos, insalubres aglomerados urbanos de hoje. Estes deveriam aguardar o desenvolvimento das indústrias, responsáveis pelo afastamento crescente entre pessoas e animais.
Aparentemente esse afastamento já havia começado antes, em textos como “criou Deus o Homem à sua imagem e semelhança”, mas com a industrialização o processo intensificou-se.
Quando Marx e Engels buscavam iluminar o bolor que crescia por trás das engrenagens, chegaram Darwin e Wallace. Foi uma união de forças que permitiu a derrubada do antigo pensamento – a cultura mística cristã – e sua substituição por um pensamento mais direto, com menos ruído, que explicasse a Natureza como Natureza, e não como os planos secretos de alguma divindade mancomunada com o Papa e com os Reis.
A ciência produzia um conhecimento democrático, ao menos para quem sabia ler. O livro de Darwin não requeria uma formação específica, mas uma cultura abrangente, viva, curiosa, do tipo que tem deixado saudades, para nosso infortúnio.
Embora publicado em 1859, A Origem das Espécies não surtiu um efeito maior porque os mecanismos genéticos da hereditariedade ainda não eram de conhecimento geral, e o senso comum parecia contradizer a tese central da obra. Apenas em 1900 os trabalhos de Mendel em genética seriam reencontrados, e a biologia evolutiva finalmente abriria suas asas em meio a um mundo conturbado. Darwin se apoiara em Malthus, e de fato com a revolução industrial a população alcançava níveis impressionantes, o que é sempre bom para líderes interessados em erguer tumbas gigantes, saquear países distantes, entre outras atividades “de Estado”. O espectro não era apenas de fome, mas também de adensamento populacional, poluição, desmatamento, erosão, perda de fertilidade do solo e perda de biodiversidade, inclusive na agricultura. O Ocidente apenas começava a conhecer os problemas que chineses e indianos já conheciam há milênios. Mas o nosso afastamento maior da Natureza tornou as coisas bem piores, mesmo com populações menores. O tão elogiado aumento na longevidade em boa parte é apenas redução da mortalidade infantil (que não era, numa família de 15, a tragédia que é numa família de 3). A despeito dessa maior longevidade, a qualidade de vida já vinha caindo tanto que outro projeto político afirmou-se através de revoluções, dividindo o mundo em monoteístas judaico-cristãos capitalistas de um lado, e do outro materialistas científicos socialistas.
Não que não houvesse ciência do lado capitalista, apenas já estava em boa parte subordinada aos interesses do Capital, que a Igreja ajudava e ajuda a defender, como uma espécie de cão-de-guarda (e vice-versa). Várias universidades eram e ainda são mantidas pela Igreja, como os mosteiros que guardaram parte do conhecimento da Antiguidade greco-romana. Afinal, conhecimento é poder.
Assim transcorreu o século XX, observando um desenvolvimento espetacular das ciências, em especial da física, química e biologia, mas também geologia, psicologia, astronomia e tantas outras. Descobriu-se o DNA e o código de construção das proteínas (a “receita molecular” da Vida e da hereditariedade). Descobriu-se o espaço-tempo, a tabela periódica, a tectônica de placas, os buracos-negros, a explicação do comportamento social das formigas e de outros animais (nós inclusive), os plásticos e supercondutores...
Mais e mais coisas eram explicadas num quadro teórico comum e relativamente simples (ao alcance de uma pessoa média com algum hábito de leitura e algum raciocínio crítico). Essa simplicidade impressionante capaz de explicar fenômenos tão diversos impulsionou a confiança na capacidade humana de criar um mundo melhor. O socialismo lutou em pé de igualdade com o capitalismo, mas talvez por um diferencial motivacional da crença em uma vida após a morte, talvez pela oferta de luxo, status, glamour (ainda que numa loteria), o fato é que o capitalismo ganhou a batalha.
Abertamente defendendo o Capital contra o povo, é claro que a sua ciência também seria usada no mesmo sentido. Da mesma maneira, filósofos anteriores também defenderam os dogmas da elite religiosa, muitas vezes disfarçados de “revolucionários” (Hegel, Kant, Spinoza, Platão). Assim, era previsível que a ciência que naturalizou os seres humanos seria combatida pela sua capacidade de desagregar um “rebanho de primatas”. Em nenhum lugar isso foi mais evidente que nas ciências humanas. Acostumados a se enxergarem “à imagem e semelhança” de um deus barbudo, os “cientistas humanos”, filósofos, sociólogos, psicólogos, economistas, historiadores – criados em meio a livros, longe do quintal, rios, árvores e florestas – geralmente não conseguiam se comparar a outros animais, mais peludos, cujos grunhidos não podiam compreender, mesmo que várias outras evidências os tornem tão semelhantes a nós para os olhares de povos cujas divindades são mais diversas e naturais.
Assim, apenas raramente as ciências humanas conseguiram aproveitar o conhecimento da biologia sobre nós e os outros animais. Não bastasse o preconceito bíblico contra a ideia de “Árvore da Vida” evolutiva, os propagadores do poder do Capital dentro das universidades também criaram sua campanha – disfarçada, é claro – para afastar a biologia dos estudantes das humanidades, e com ela o espectro socialista. Assim o chamado pós-modernismo começou a invadir as ciências humanas.
O pós-modernismo tem uma variedade de estratégias que têm lhe dado relativo sucesso reprodutivo:
· colocando verdades óbvias em meio a textos confusos, cria “oásis de compreensão” que animam o estudante e aumentam a empatia e confiança pelo autor;
· escrevendo textos confusos passam por “profundos”, “acadêmicos”, “avançados”, “técnicos”, “profissionais”;
· escrevendo textos longos e repetitivos consomem o tempo dos estudantes, aumentam seu cansaço, reduzem as capacidades cognitivas que as universidades deviam ampliar;
· misturando tempos verbais do que está sendo e do que é, cristalizam preconceitos localizados do inconsciente coletivo como se fossem leis naturais;
· trocando conceitos (por exemplo, falando “verdade” quando estão se referindo à “opinião”, ou falando de ontologia e epistemologia sem se ater às definições convencionais dos termos nem propor um novo significado) não apenas constroem uma sociedade mais alienada – e portanto mais escravizável – mas também aumentam a confusão dos estudantes e a sensação de “ser burro”, reduzindo sua auto-estima junto com as chances de emancipação de seu povo;
· denegrindo as ciências naturais (tão diversas quanto seus métodos e teorias em competição) como monolítica, dogmática, “a serviço do capitalismo” negam ou omitem os poderes da indústria, da mídia, da igreja e do próprio processo educacional de simplificar o processo científico até à desfiguração e divulgar amplamente certos resultados e interpretações em detrimentos de outros, igualmente científicos;
· sendo excessivamente teóricos, abstratos, idealistas, raramente se aproximam da realidade e da Natureza, circulando entre definições, esquemas e conceitos puramente especulativos, o que garante uma falta da “falseabilidade” que Popper apontou como fundamental à ciência;
· citando atores sociais ideais e vagos, geralmente descorporizados, sem nome nem palavras próprias (citam Kant e Hegel e Kierkegaard – reis dos textos nebulosos supostamente profundos – mas não citam nenhum índio mesmo quando defendem a importância social do movimento indígena);
· citando conhecimentos antigos como se fossem descobertas novas (mitologia indígena como “Ecologia de Saberes”, bioquímica como “processos neguentrópicos”...);
· afirmando respeitar “outras outridades” mas sem buscar o consenso, fomentam a desfragmentação dos movimentos sociais (cada um com a sua “verdade” subjetiva, “cada um no seu quadrado”) e não a união que faz a força;
· negando a particularidade da ciência moderna, colocando-a em pé de igualdade com outros conhecimentos (“metafísica, astrologia, teologia, artes, poesia...”), omite que está dando poder para a igreja, de longe o mais influente desses outros conhecimentos, dona de terras e veículos de mídia;
· colocando a teologia como tão relevante quanto a filosofia, ataca as premissas do estado laico, colocando o Ocidente nas trilhas de novas teocracias, cujo obscurantismo vai sendo pacientemente cultivado por todas essas estratégias.
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