Friday, February 26, 2016

O Legião Urbana virou à direita?

Amanhã é o show do Legião Urbana em Manaus. 30 anos de carreira.

Escolheram fazer no Studio 5, onde Gilberto Gil tocou para uma plateia relativamente influente, porém reduzida.

Iron Maiden tocou no Sambódromo.

Scorpions, provavelmente a banda internacional favorita dos amazonenses, tocou no "Vivaldinho" (Arena Amadeu Teixeira).

Dois espaços muito maiores que a casa de shows do Studio 5.

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O que aconteceu com o Legião Urbana, não conhece mais o seu país? Ou nunca conheceu? O autor de "Índios" parecia conhecê-lo. Dado e Marcelo não conhecem? Ou entregaram a logística para terceiros "mauricinhos"?

Por que isso me incomoda?

Porque em muitas viagens pelos interiores desse Brasilzão, sempre que possível acompanhando os eventos culturais ao lado do "povão", aprendi que há dois artistas consagrados no Brasil (talvez no rock, talvez na música em geral), pelo menos para a "juventude".

Esqueçam Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Esqueçam Cartola, Milton Nascimento e Gonzagão.

Estou falando de Raul Seixas e Renato Russo.



E a Legião Urbana tinha que me sair com essa? Cobrar R$60 para dar um show onde não cabe quase ninguém? Por que não cobraram R$30 para lotar um espaço muito maior com o "povão" que realmente os aprecia?

Não, preferiram os riquinhos que "não gostam de pegar chuva" (já que o Sambódromo não tem teto). E que, aparentemente, também não gostam de povão.

Que decepção!




PS: Uma vez eu debatia com um cara que insitiu que conhecia o Brasil melhor do que eu. Pedi pra ele fazer um mapa com as cidades onde havia andado a pé pelas ruas, pelo menos por uma hora, e conversado com alguns habitantes locais. (Escala de avião via de regra estava descartada.)

O mapa dele até que tinha várias cidades, mas formavam um triângulo entre Brasília, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul (aliás, nunca entendi isso, já que o Rio Grande mesmo é o Amazonas).

Conhece o Brasil?

Mostrei pra ele o meu mapa. Ele nem respondeu mais. Típico.

Nossa democracia não melhoraria se aprendêssemos a admitir quando estamos errados?

(E não é por isso mesmo que os posmodernos nos ensinam enfiam goela abaixo que "não existe verdade", logo "não existe erro"?)

Lugares onde andei.

Thursday, February 04, 2016

Pão


Wednesday, February 03, 2016

Mandingo, Sófocles e Jimi Hendrix


se os ocidentais são bons...

os Chineses foram até a África fazer comércio.

os Europeus foram até lá arrancar escravos para levar a terras roubadas de outras civilizações.

E os Europeus, cristãos, é que são os bons? Os mocinhos?

"Os Europeus não sabiam que os negros tinham alma" - realmente, alguém acredita nisso? Não estou falando dos primeiros europeus que chegaram na África ainda no século 15 ou 16, estou falando do século 19 -- 300 anos, e MUITOS filhos e filhas mestiças, depois! Não estou perguntando se alguém vai dizer que acredita só porque está acostumado a ser hipócrita e repetir o que outros querem que se diga. Estou perguntando se ALGUÉM ACREDITA NISSO?

Mandingo (1975) apresenta a questão da escravidão com realismo - exagerado, dirão as puritanas - e, como é necessário, como uma tragédia, na moda grega de um Édipo Rei e sua irmã Antígona.

Quando um negro caça outro a pedido do dono branco, o que é pior, o medo de morrer ou a vontade de matar?

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Quando comparamos diferentes culturas ao redor do globo, vemos uma liberdade sexual muito maior que a ensinada pelas puritanas doutoras da igreja (usando aqui o jargão gay de chamar pelo feminino algumas "amigas").

A homossexualidade não era proibida no continente que depois seria batizado América. Pelo contrário, muitos relatos mostram não apenas uma grande consideração pelo "terceiro e quarto sexos", mas uma permissividade sexual generalizada, como na célebre "não existe pecado 'abaixo' do Equador". Também nos cânones orientais vemos a experiência e até erudição sexual de indianos, a espontaneidade dos daoístas: vão ambas em direções muito opostas ao moralismo anti-prazer que o cristianismo desenvolveu desde cedo (ver por exemplo a esplêndida obra de Uta Ranke-Heinemann, Eunucos Pelo Reino de Deus. "Misteriosamente", não encontramos a obra na página da editora, mas damos de cara com um alien nada amistoso -- vontade inconsciente de espantar leitores incautos?).

Será que o "chifre" vale mesmo uma vida? Não parece uma regra criada apenas para as famílias donas de imensas fortunas, que inventaram até a matemática e a geometria (o nome já diz, medida da terra) para salvar suas posses e prazeres? Regra que mais tarde vazaria para o "populacho", inevitavelmente, como uma tinta que aplicada à cabeça de uma estátua há de escorrer e colorir também as suas vestes e o pedestal?

Quando Jimi Hendrix cantava Hey Joe, quem ele encarnava, o amigo que inicia a letra, ou o próprio Joe, que mata a mulher por ciúmes? Talvez um pouco de cada? Qual o real papel de Joe? Esperava ser aceito pelos brancos? Tentava imitar o ideal de honra deles? Ou teriam seus ancestrais trazido da África este comportamento? Quando fugia para o México, é porque os mexicanos sabiam que a Natureza não pode ser domada? Ou porque onde estava, ao lado da lei de defesa da honra, havia também uma lei contra a defesa da honra -- nessas dicotomias do típicas do falso moralismo (se permitirem o pleonasmo)?

Qual mulher mereceria a morte: a adúltera ou a ciumenta? (Reparem se a versão do Blues Etílicos traz mais influência da capoeira ou de Roma. Além disso, ao contrário do "justiceiro" de Hendrix, aqui se prefere entregar o castigo à Executora natural, como também recomenda o Dao De Jing no capítulo 74. Já o direito romano há muito dá ao homem o direito de agredir e, muitas vezes, matar a mulher infiel.) O que pode ser considerado ofensa aqui? O que é pior, aceitar um chifre ou matar por ele? Quem são os selvagens, afinal?

Aliás, sendo a Selva um templo da Vida, o que queremos dizer quando acusamos alguém de ser "selvagem"? Viver na selva é viver longe dos seres humanos? Ou fugiram da selva os humanos que hoje a destroem, impiedosa e impunemente?

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O sentido da tragédia grega é o mesmo da Vida, às vezes ganhamos, às vezes perdemos. Não existe "felizes para sempre". A cultura europeia é baseada em milenares mentiras. A tragédia grega foi substituída pelo melodrama da Bíblia e de Hollywood (aliás, dizem que os judeus escreveram a primeira e hoje dominam a segunda). Se antes cada lado tinha os seus motivos, agora um é "bom" e o outro "mal". Para o cristianismo, para o islã, para o judaísmo -- "nós" somos "bons". O outro lado não está com o "deus único", só pode ter "inclinação para o mal"? Eis o melodrama, o maniqueísmo, a dicotomia que tenta separar o bem do mal, o branco do preto, o sim do não -- quando todos se alternam, como já sabiam os daoístas do yin-yang.




E assim, na tentativa de fazer a Vida parecer um roteiro mal escrito, muitas vidas são humilhadas, pisoteadas, destruídas. A posse de poucos somada a uma má filosofia gera a aparência para muitos, e milhões de escravos perdem suas vidas para erguer a tumba de um faraó que se acredita o único deus (ou mesmo sabendo da existência de outros, fechou-lhes os ouvidos). O resultado é a morte, a destruição das Florestas, a destruição do prazer, a destruição da Vida, da biodiversidade, do sentido. Para os descendentes do romanos, as pirâmides do Egito não passam de uma "grande maravilha do mundo"! Para os economistas da TV, a Natureza é um "recurso infinito"!

Mas quem sabe tenhamos alguns séculos pela frente? Se pudermos aprender com os distantes (ao invés de nos contentarmos em "amar o próximo"), talvez saiamos do lugar, talvez aprendamos a viver melhor. E a tragédia voltará a representar nossos problemas inevitáveis, e não mais os problemas desnecessários que criamos para manter uma única tradição em detrimento de outras.