Quero entender por que nossa nação é tão medíocre
As pessoas são alegres e extrovertidas, ou assim acreditam ser. A alegria do brasileiro não é uma paz harmoniosa como a dos orientais, nem uma alegria calma como a que já vi apenas raramente, mas uma alegria rápida, agitada e impaciente - é uma alegria que parece não existir sempre, mas ser forçada a existir em alguns estreitos intervalos. É um falar sempre, com extravagante e transbordante emoção, como que represada em alguma outra fonte e que jorra então "espontânea", incontrolada, sem rumo. A alegria do brasileiro é uma negação de outra coisa - talvez de uma tranqüilidade de espírito, de saber calar-se, de saber ouvir.O silêncio vale ouro.
A vida adulta precisa ser, na aparência, apenas a negação dos sonhos da juventude.
Mas a vida adulta deve ser (assim é imposto), na prática, a execução tardia destes mesmos sonhos.
Isso deve ser o sinal de uma humanidade velha demais, cujos sábios usurpadores já tiveram tempo de desenvolver uma ciência da usurpação da vida - cuja base consiste em religião, esperança e circo. Pão, naturalmente, mas mesmo o pão pode ser negado a boa parte da massa humana (do todo, bruto, amorfo que é a soma de todas as diferenças, de todas as outrora abundantes individualidades) - o pão pode ser negado a tanta gente porque já está montada uma estrutura de controle densa, complexa e eficaz, que vem acontecendo há milênios, e se firmou nos últimos cinqüenta anos numa escala sem precedentes.
O que acontece ao mundo? Freud se perguntou isso provavelmente com muito mais propriedade que Sócrates, Platão ou Aristóteles. Porque viu um mundo já mais louco, no pior sentido da palavra. Não louco no sentido de original, ousado, autêntico, criativo, solto, disperso, mas louco no sentido inverso, de viciado, corroído, aplainado, empobrecido, burro. Talvez o mundo sempre tenha sido igualmente estúpido, pois os homens são naturalmente estúpidos, mas não são naturalmente burros. Podem ser brutos e violentos, querer o imediato e ignorar as conseqüências, mas existe uma sabedoria natural em todo organismo em harmonia com sua natureza, seu meio, seus genes, sua herança genética e comportamental. Existe uma sabedoria do corpo, da parte de nosso cérebro que ocupa 99% do volume, que resulta de 99,999% de nossa evolução biológica, mas que hoje os cientistas sociais são adestrados para repetir que significam apenas a menor parte de nossa vida mental e social.
O mundo hoje perdeu este vínculo entre criatura e origem, somos todos aleijados. Uma criança ribeirinha já nasce sabendo pescar. Uma criança numa cidade-estado grega aprendia a lutar e a pensar - as duas armas mais perigosas. Mas o ideal de futuro é "toda criança na escola". Quanto terror isso nos trará no futuro?
Não podemos hoje pensar, porque não há tempo. Precisamos correr para tudo: com o trabalho, com a produção, com os estudos, para o ônibus ou para tirar o carro da oficina ou tirar a carteira ou a senha para entrar na fila ou para pagar a prestação ou penhorar ou despenhorar o relógio de alguém que raramente temos tempo para sentar lado a lado, em silêncio, e pensar. Não sentar para conversar, ou beber, ou assistir TV. Sentar-se e compartilhar do silêncio de quem entende tudo sem precisar de palavras, de sons, apenas do semblante calmo e reto, das mágoas e feridas abertas e as cicatrizadas. Nosso tempo escasso não deixa essas feridas cicatrizarem. Quando não é o terror, a violência, o medo generalizado, ou o ódio de quem não tem sequer o essencial, é a diversão, o êxtase do carnaval ou do futebol - este toda semana, todo dia. Sempre estamos comemorando algo e lamentando algo mais. Alimentam nossos instintos mais extremos, o ódio e a paixão, sucessivamente, até que nos reste apenas a casca, o córtex cerebral, que é instado a produzir e desenvolver e crescer e multiplicar e armazenar e construir e aumentar e produzir mais, até... Não há tempo para o equilíbrio, para o Tao.
Não sei se o Tao requer tempo, mas o silêncio ajuda. Talvez a descobri-lo, talvez a mantê-lo. Chamem-me louco, mas deixem-me calar.
É isto então, a vida? Trabalhar para morrer? Divertir-se para tolerar? Mas tolerar o quê? Se apenas minha vida fosse por vezes um martírio, eu me calaria, mas meus olhos vêem, não posso negá-los. É a vida apenas correr a rua apressado para chegar do outro lado, com tanta pressa que sequer se olha a velocidade e a distância dos carros que se aproximam? Quantas vezes posso atravessar andando, ouvindo os pássaros, contando as estrelas... Até de olhos fechados, se quiser? Contanto que se olhe antes. Contanto que se olhe, e veja.
Podemos percorrer uma distância cada vez maior de olhos fechados, mas é preciso treino. E não temos tempo para treinar, porque estamos correndo atravessando a rua, com medo dos carros que deveríamos já ter olhado e visto, visto e compreendido.
Como são patéticas as pessoas que correm para atravessar a rua sem ver que não há carros. Aprenderam a atravessar assim, e não conseguem largar um hábito. Prendem-se aos hábitos, talvez porque já não tenham tanta fé em Deus, ou na polícia, ou na política, quem sabe mesmo na própria vida, nos próprios sentidos, na própria razão. Acham que devem confiar mais no que outros dizem do que naquilo que sentem com os próprios órgãos. Não agir assim para estes é loucura, desprezo ao estabelecido, às instituições, e acham mais importante fazer parte do que ser. Esperam que haja algo melhor do outro lado, como quem, definitivamente, desistiu daqui. Preferem desistir, por isso atravessam correndo.
Eu não. Eu quero parar e respirar o ar com todos os meus alvéolos, a cada passo, quando eu quiser. E que se foda quem for contrário a isso. Às vezes corremos, mas apenas por vontade própria. Por que Eu decidi que correrei, e pelos motivos que calmamente me expus e me convenci, racional e emotivamente, sen-sa-ta-men-te. Não correndo louco e esbaforido, com medo de errar e, por isso mesmo, sem tempo para aprender como acertar. Ou, quem sabe, dando uma corridinha apenas para dizer que se exercita.
Que nação de tolos! Ou nações! Quanta tolice! Todos querem prazer imediato, conforto máximo, esforço mínimo, tudo ou nada, superlativos! Poucos são os que sabem misturar conforto e esforço, prazer e utilidade, espontaneidade e planejamento, diversão e construção, felicidade e liberdade, de modo a aproveitar a vida seja como for. Estamos sempre pondo a culpa na falta de algo - eu seria mais feliz SE tivesse dinheiro, SE tivesse um carro mais novo, uma casa melhor, uma esposa mais silenciosa. Vivemos num conjunto de regras tão antigo, tão incompreensível; talvez a herança múltipla de diversos códigos cujas bases se perderam ao longo dos séculos, e cujo resultado é um lodaçal de zeros, uma farsa tão intrincada e suja que não sabemos se persiste por falta de perseverança ou de honestidade. Com certeza de ambos. Seguimos um conjunto de leis tão arbitrário e injusto que é natural que sequer possamos culpá-las, já que apesar delas todo o restante está podre e condenado até as raízes.
Gostaria de dizer que vivemos numa selva, mas seria uma demonstração de desconhecimento e desrespeito com esta entidade tão antiga e jovial. Vivemos não numa selva, mas numa sala escura, apertada e quente, onde o bafo de um prejudica a defecação do próximo, e assim estamos todos no escuro, desinteressados das verdadeiras questões, de qualquer faísca que nos possa iluminar, talvez porque tenhamos medo do incêndio que poderia causar num mundo já tão oleoso. Até as máximas populares perderam a sabedoria que guardaram por milênios - um exemplo: religião não se discute. Discutir foi sinonimizado com brigar. Onde está o diálogo sábio, o jogo de definições e dedução, a conversa intrigante, inteligente, desafiadora? A maioria das pessoas sequer sabe do que falo. Consideram orientais apenas como um bando de idiotas que não tem a nossa "ginga" tropical. E como dizemos isso com o peito estufado!
Já sonhei com um bando de pessoas que soubesse acrescentar seus respectivos e múltiplos talentos na criação de algo consistente e útil. Não porque assim dá mais dinheiro, ou porque assim se produz mais, mas apenas porque é belo usar a razão em conjunto. Mas nunca encontrei tais pessoas, a não ser isoladamente, sub-aproveitadas, tanto quanto eu mesmo lamento ter crescido e vivido até hoje neste mesmo mundo, que soube dispensar tudo que trago de melhor, apenas porque isso não interessa. Interessam apenas meus títulos e minha "virtude". Interessa que eu seja trabalhador e honesto. Interessa que eu seja pacato e ordeiro, civilizado e que consuma o bastante. Consuma e deixem consumir! Ninguém valoriza aquele que é diferente, chamam-no logo de louco, isolando-o num compartimento marcado para que possam continuar com sua insípida euforia de adolescentes tardios. Ninguém valoriza aquele que traz uma maneira única e original de ver as coisas - não perguntam a ele "oh! como sua opinião é distinta! Posso compreendê-la melhor?" ou "Por que você pensa tão diferente de mim? É certo que ambos podemos desenvolver bastante nossa visão de mundo se ambos tentarmos entender o que o outro acredita."
Mas não, não se quer entender. O que se quer é apenas sorrir, demonstrar que se é o mais jovial e divertido do ambiente em que se encontra, que nada parece lhe preocupar, que tudo isso já foi visto e entendido, e a única coisa que nos resta é sentarmos jovialmente e nos drogar até a morte, seja de cocaína, televisão ou igreja.
Quando não é isso reclama-se em voz alta do que ninguém presente tem a menor condição de resolver ou de contribuir. Reclama-se em voz alta o que se passa no coração, sem consideração com os demais, se eles querem ou não ouvir tal balbúrdia. O pensamento é uma coisa muito frágil, muito sutil e fugaz - é no mínimo um desperdício maculá-lo com o som inadequado de nossas vozes. A voz foi feita sendo usada, é claro, mas mesmo entre os animais existe economia no uso deste recurso. Nós, que estamos sugando o planeta e vamos sugá-lo até que fique roxo e finalmente adoeça gravemente, falamos tão alto e inutilmente como tudo o mais que consumimos e desperdiçamos, apenas porque acreditamos que nossos recursos são ilimitados - em outras palavras, que somos o máximo!
[continua...]
2 Comments:
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