o lado lento
o lado lentoo lado lento é sempre visto com desdém. Querem o melhor de tudo, em tudo! Do lado de cá do rio as coisas sempre foram diferentes. Costurávamos as águas entre a floresta usando só do nosso corpo e ferramentas toscas, isso num tempo em que o corpo era ainda extensão da alma, ou melhor era tudo uma coisa só, expansiva. Os ritmos eram os nossos próprios e os do mundo. Mas do outro lado do rio eles já tinham inventado as máquinas mais medonhas e enormes, que faziam tudo por eles, e de certa forma quem doma a máquina é mais forte, mais alto, mais rápido, mais eficiente, mais rico, vive com mais luxo e conforto, mas é isso que ele quer? É disso que ele precisa? Do lado de cá, não, aqui o tempo escorre, não voa. Ou voa, pula e estronda e rodopia e assobia e chove uma tempestade e acalma, venta, faz Sol, tem a lua, as estrelas, planetas, tudo gira no seu lugar ainda, o tempo é tudo, menos tédio constante inconstante constante inconstante constante inconstante.
Quando o tempo foi perdido enquanto se acreditava no futuro, enquanto se viveu no futuro, o tempo não volta atrás, mesmo que se repita um dia. E tanto faz que seja só uma vez ou duas ou mil, que seja o mesmo ou que seja diferente, pois tudo isso é só o futuro.
O presente está lá fora nas multidões que arejam suas asas no feriado de amanhã. Para eles isso é já o presente, para eles o presente é como o mundo, infinito. Nâo há barreira entre o presente e o amanhã pq o amanhã é nada, é zero, é nulo, não se usa, a não ser para um encontro do presente, para o fato, para o tocado, o sentido, o cheirado, visto e ouvido, ali se desenrolam as histórias antes das máquinas, antes do tempo programado e cumprido, cuspido e alimpado, ali do nosso lado do rio éramos ainda meio guerreiros, e ali aconteceram essas histórias.
3 Comments:
Tô impressionado com a sua eloquência, seja você quem for.
Sucesso.
Excelente!!!
(Dispensa outros comentários...)
Obrigado.
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