Sunday, March 20, 2011

Tao Te Ching 61-70

61

A grande nação é como a foz de um rio,
como a fêmea receptiva
conectando tudo ao seu redor.

A fêmea geralmente vence o macho em silêncio,
tranquilamente pondo-se abaixo dele.
Por isso a grande nação ao colocar-se abaixo da pequena, conquista-a;
a pequena nação, colocando-se abaixo da grande, conquista-a.

Portanto, ou se está abaixo para conquistar ou se conquista por estar abaixo.
A grande nação apenas deseja unir e cultivas as pessoas,
a pequena nação apenas deseja ser convidada e poder trabalhar pelas pessoas.

Ambas podem obter o que desejam,
caso a grande nação se coloque abaixo das demais.


62

O Tao reside na profundidade.
O Tao, morada profunda das dez mil coisas.
Tesouro das pessoas boas, onde as não boas buscam proteção.
Belas palavras atraem respeito,
belas ações atraem e aperfeiçoam as pessoas.
Aqueles que não são bons, como abandoná-los?

Quando um novo governante assume e se renovam os três poderes,
ainda que tenhas um cetro de jade desfilando à frente de quatro cavalos,
não seria tão bom presente quanto manter-se junto ao Tao.

Por que os antigos valorizavam tanto o Tao?
Não seria porque:
quem o deseja alcança;
quem tem culpa, por ele evita o mal.

Por isso é no mundo inteiro tido como valioso.


63

Faça o não-fazer,
preocupe-se com preocupação nenhuma,
saboreie o sem sabor.

Considere grande o pequeno,
considere muito o pouco,
retribua ressentimentos com virtude.

Perceba a facilidade no difícil,
faça o grande por partes.

Os assuntos difíceis do mundo
devem ser abordados por seu lado fácil.

As grandes questões do mundo
devem ser tratadas em pequenas partes.

Portanto, o sábio não age "grande",
e assim atinge sua grandeza.

Quem faz promessas fáceis
não merece muita confiança.

Muito fácil deve ser muito difícil.
Por isso o sábio vê dificuldade em tudo,
assim a dificuldade desaparece.


64

O que é tranquilo é facilmente manejado,
o que está longe de acontecer pode ser melhor planejado.

O que é frágil quebra-se facilmente,
o que é leve é facilmente espalhado.

Aja sobre as coisas antes que aconteçam,
corrija-as antes que necessitem correção.

Uma árvore tão larga quanto o seu abraço
cresce a partir de um fino broto.

Um edifício de nove andares
é erguido sobre um punhado de terra.

Uma viagem de quinhentos quilômetros
começa com um simples passo.

Quem age sobre algo costuma estragá-lo,
quem agarra algo costuma perdê-lo.
Por isso o sábio não age e assim nada estraga,
nada agarra e assim nada perde.

As pessoas em suas tarefas geralmente
acertam uma parte e então fracassam.
Cuidassem do final como do início,
então não fracassariam.

Por isso o sábio deseja não desejar,
não valoriza bens difíceis de conseguir,
aprende a não aprender,
volta aonde os outros passam reto,
assim contribui com a natureza de todas as coisas,
mas não ousa agir.


65

Os antigos que aplicavam bem o Tao
não buscavam educar o povo
mas o mantinha puro e simples.

Um povo educado é de difícil governo,
pois tendem a ser "espertos" demais.

Por isso,
governar uma nação com certo tipo de sabedoria
é uma traição à nação,
governar uma nação sem esse tipo de sabedoria
é uma felicidade à nação.
Aquele que conhece essa oposição
a usa como referência e método.

Conhecer essa referência e método
é chamado "virtude misteriosa".

"Virtude misteriosa"
profunda e de longo alcance!

Opondo-se aos outros
consegue grande convergência.


66

Rios e mares são senhores de centenas de vales,
colocando-se bem abaixo tornam-se senhores de centenas de vales.

Por isso o sábio,
quando quer colocar-se acima do povo,
coloca seus dizeres abaixo dele;
quando quer liderar o povo,
coloca seu corpo atrás dele.

Por isso o sábio fica acima do povo,
mas este não sente seu peso;
fica na frente do povo,
mas este não vê nisso mal.

Por isso todos celebram
e com ele avançam sem desprazer.
Como não compete,
ninguém pode com ele competir.


67

Todos dizem que meu Tao é grande,
mas parece desprezível.

Justamente por ser grande
é que parece desprezível.
Se assim não fosse,
há muito sua pequenez seria conhecida.

Eu tenho três tesouros
que seguro e protejo.

O primeiro se chama misericórdia.
O segundo se chama moderação.
O terceiro se chama não se atrever a ser o primeiro no mundo.

Misericórdia, e poderá ter coragem.
Moderação, e poderá ser expansivo.
Não se atrever a ser o primeiro no mundo,
e poderá se tornar grande e útil.

Hoje se quer ter coragem sem misericórdia,
ser expansivo sem moderação,
ser o primeiro sem ser o último.

O resultado disso é a morte!

Aquele que luta com misericórdia
alcança a vitória,
sua defesa é firme.
Os céus irão ajudá-lo
e sua misericórdia o protegerá.


68

Bons oficiais não são belicosos.
Bons guerreiros não se guiam pelo ódio.
Bons vencedores não se misturam aos vencidos.

Quem bem sabe usar as pessoas
coloca-se abaixo delas.

Isso se chama
virtude da não-competição,
força do uso das pessoas,
harmonizar-se com o céu -
a extrema virtude dos antigos.


69

Há um ditado sobre o uso militar:
"Não ouso iniciar a guerra, prefiro me defender;
não ouso avançar um centímetro, prefiro voltar um metro."

Isso se chama enfileirar tropas sem tropas,
repelir sem braços,
dispensar o inimigo sem inimigo,
manejar o exército sem exército.

Não há desastre maior que subestimar o inimigo,
subestimar o inimigo pode nos fazer perder nossos tesouros.

Por isso,
quando dois exércitos equivalentes se enfrentam
vence o mais piedoso.


70

Minhas palavras são muito fáceis de conhecer,
muito fáceis de praticar.

Mas em todo o mundo não há quem possa conhecê-las,
não há quem possa praticá-las.

Minhas palavras têm propósito,
minhas ações têm regras.

Apenas ninguém as conhece,
portanto também não me conhecem.

Raros me conhecem
e por isso me valorizam.

Portanto, o sábio veste roupas grosseiras,
mas é belo por dentro.

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