Monday, December 11, 2006

Brasília I

Fui dos primeiros a chegar em Brasília. No aeroporto um rapaz de terno e gravata me esperava perto da floricultura, portando uma placa de identificação com grande solenidade. Cumprimentei-o e ficamos ali conversando sobre o mundo, enquanto não chegava o horário da van que nos levaria ao hotel, e ninguém mais chegava. O solene rapaz tinha o sonho de ficar rico. Não sei se pelo terno ou pelas maneiras, mas ele aparentava ter algum dinheiro; disse-me que em Brasília não se vive com três mil reais por mês - no máximo sobrevive-se - era a sua tese. Perguntei o que ele tanto precisava que não tinha ainda condições de ter, e ele desfiou a lista automática: um barco, um carro importado, uma casa de praia... Disse a ele que até ter uma casa de praia ele poderia já ter conhecido todo o litoral brasileiro, hospedando-se em pousadas simples, econômicas e hospitaleiras, sem precisar ter a dor de cabeça de trabalhar tanto para ter algo que depois, provavelmente, não se mostraria tão essencial como agora parecia em seu sonho. Mas a juventude... ou será o homem? Sequer considerou meu argumento; já falava de outras grandiosidades, outras pressas, outras necessidades impreteríveis. E eu desisti, de uma vez por todas, de tentar convencê-lo do contrário.

0 Comments:

Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]

<< Home