Monday, December 04, 2006

Marari

Marari
guardo de ti
tuas curvas
tuas chuvas
tuas serras

tuas águas claras
dilacerando rochas antigas
teus ventos impetuosos
acariciando o dossel
como um machado

tuas nuvens graves
teu céu azul
teu humor inconstante
tuas aves, teus insetos
tua vida murmurante

tuas sombras e clareiras
tuas lianas e palmeiras
tuas praias ribanceiras
calmaria de lua cheia.

Guardo de ti tua bravura
o sorriso do teu povo
forte e independente
seu afeto inocente
sua justiça estranha
incerta e intermitente
suas dúvidas ingênuas
sua ganância ainda pequena:

bons selvagens numa terra distante
ou natureza humana em corrupção galopante?

Não espero de ti a resposta
Marari, gigante barrento
pois sei que o Padauiri
teu destino certo e lento
traz a mesma dúvida posta -
que o futuro do rio
é o futuro do homem
e o destino de ambos
aguarda, sem pressa, à margem
insensível à paisagem
indiferente ao tempo
só se lembra assim,
de passagem
quando, num súbito vento
surge a triste imagem
de que o rio
se torne miragem.

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