Tuesday, April 03, 2007

O clubismo

Por que o homem se agrupa ao redor de classes, clubes, times de futebol, igrejas, religiões? Chamemos essa propriedade clubismo. Eu prefiro ficar deitado, pensando. Há quem fique todo o dia em sociedade, falando, ouvindo, comendo, bebendo, rindo e se lamentando. Numa escala de solitário a social, a clubista, de 0 a 10 eu fico no 1. Mas por que há essa escala?

O ser humano é mais um macaco - portanto, social. É um estado plesiomórfico, ou seja, já veio pronta desde o ancestral. O que temos de apomórfico, de derivado, é a linguagem, a cultura oral. Muito depois a escrita.

A linguagem que os chimpanzés são capazes de aprender gira em torno de XXX palavras, com as quais constróem milhares de frases. Conhecendo-se 10% dos símbolos chineses é possível entender cerca de 50% dos textos.

O ser humano se agrupa para ficar mais forte, e a linguagem mais usada é a mais comum. Com 300 palavras já se conversa em inglês, e já podemos nos comunicar com virtualmente toda cultura do planeta. Não sei porque há essa escala, mas acho que tem a ver com a diversidade - uns preferem falar, outros pensar, e só.

***

Gosto de apenas deitar na rede e olhar pela janela, ouvindo e vendo os pássaros na mangueira do quintal. É essa mangueira quem faz sombra no meu quarto, dispensando o ar-condicionado. Gosto de me encontrar com as pessoas, mas não abro mão, ou melhor, decido 10% do meu tempo, talvez, para o convívio social.

E na janela escuto:

"Ê ô ô vida de gado,
povo marcado, ê
povo feliz!"

As pessoas gostam de esportes de equipe, talvez pela recordação genética de guerras imemoriais que nossos antepassados venceram.

Para nós é difícil se reunir sem falar, sentimo-nos desconfortáveis. Então precisamos de assuntos, coisas do que falar, e aí inventamos palavras e mais palavras, clubes e entidades, com normas e regulamentos e assuntos internos. Clubismo. A tv deixa todos a par do futebol, a igreja uma vez por mês e nem isso, ou todo dia ou semana, e já basta para deixar toda a sociedade impregnada com seus valores, as palavras que usamos, os nomes das cidades e das ruas, a moral, os direitos e os costumes, indissociáveis de nossa forma de ver o mundo e de considerar uma linha reta em algum lugar entre os normais e os doidos. Não há apelo pela diversidade, apenas às minorias - que preferem copiar as atitudes anti-indivíduo das maiorias, e abraçam uma série de dogmas e preconceitos. Como todo mundo, você poderia dizer. Mas os dogmas de grupos fortes vencem sobre os dogmas de cada um de seus dissidentes. A diversidade é admitida com desconfiança. Meus vizinhos jogam dominó e conversam o domingo inteiro, e também nas noites de semana, haja assunto!

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