Origem da fé
A minha "fé" na ciência é o que me sobrou depois que eu eliminei progressivamente tudo o que era mais duvidoso. A sua fé na religião é o duvidoso primeiro, o não eliminado (por falta de alternativa). Sem ter o que pôr em seu lugar, você aceita o "deve acreditar". Eu não acredito em nada por dever, mas pelo sentido que faz. Não acredito a priori, mas a posteriori. As alternativas são: ciência ou religião. Para escolher é preciso estudar ambas (alguns conhecimentos úteis: cosmologia, química, física, evolução biológica, zoologia) e a história de ambas, naturalmente.Sem essa que ciência e religião "não se sobrepõem", que cada uma trata de um fenômeno, de "uma parte da experiência humana". Ou deixemos os cientistas darem a palavra final sobre o aborto, o aconselhamento ou desestímulo populacional (nem controle, nem só planejamento familiar), os direitos dos homossexuais (comecemos pela sua natureza, aceitando a naturalidade do bissexualismo), as concessões das telecomunicações; e que tipo de estabelecimento lucrativo deveria pagar impostos, conforme a riqueza individual que gera. Tiremos esses assuntos "mundanos" das mãos das igrejas e da multidão de "não-praticantes" que as obedecem e respeitam. Um pouco de educação (chame de propaganda, se quiser igualar os discursos) faria enorme diferença.
2 Comments:
A questão também passa por outro ponto. A ciência nos nutre de informação sobre como acontece os processos nos seres vivos, mas a decisão de "onde se inicia a vida", por exemplo, é uma decisão filosófica, moral e social.
Sabemos que o sistema nervoso se forma próximo aos seis meses de vida -- se não me engano -- mas isso não nos dá nenhum parâmetro para considerarmos que é aí que a vida se inicia. O recém-nascido ainda é muito deficiente em termos de apreensão e consciência de si mesmo. Da mesma forma, poder-se-ia considerar que o momento da concepção é onde acontece o "milagre da vida".
Enfim, a ciência nos dá mais informação que pode ajudar a definir modelos sociais. Mas ela não tem em si uma moral, a moral é algo definido pelo contexto social, moral e político de uma determinada época e não tem uma relação direta com o desenvolvimento científico desta.
"Onde se inicia a vida" é uma questão filosófica, moral e social? Já concordamos que é uma questão moral; é social pq é a sociedade que quer se intrometer num processo que acontece DENTRO do corpo da mãe. Agora, onde a filosofia tem mais chance de alcançar a moral do que a ciência? Por que aceitamos essa idéia sem questionar? Todos os povos do mundo têm várias idéias sobre moral. A ciência (no caso, a antropologia) não tem o papel de mapear essas idéias, suas semelhanças e diferenças? E se acontecer que todos os povos dão à mãe a palavra final sobre a própria qualidade de vida e a do seu futuro (ou não) filho? E se for só as sociedades derivadas do judaísmo/cristianismo/islamismo que achem errado o aborto, justamente as sociedades mais machistas, por exemplo? Se tudo isso for descrito pela ciência e pela história, onde a filosofia entra? A filosofia e a ciência devem andar de mãos dadas; mas o que geralmente acontece é que a filosofia cede aos tabus religiosos por jogos de poder, e se mantém esse blablabla de que a ciência não tem nada a nos dizer sobre moral. O desenvolvimento científico não tem nada a ver com a moralidade de uma época porque as pessoas não acompanham a ciência. Se acompanhassem, teria tudo a ver.
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home