Wednesday, December 27, 2006

Perfeição I (só os sonhos são perfeitos)

Quando o vejo deitado ali, ressonando alto, sem sonhar, lembro sem querer da vez em que nos conhecemos, num desfile de carnaval. A multidão estava na avenida, uma multidão de bêbados alegres, e qual era a chance de termos nos conhecido entre tanta gente? Não sei. Existe estatística do passado? Podia ter sido de outra forma, apenas se eu decidisse demorar um minuto a mais nalgum ponto, ou se não tivesse desistido da fila da cerveja um pouco antes, ou se não tivesse olhado para ele no momento exato. Poderia não olhar? Poderia mesmo? Acho que não.

Mas quando estou ali, e ele também, e durmo, sonho sempre com aquela praia, ou campo, não sei, deserto, e estou sempre em movimento, sem vir de lugar algum, sem ir para nenhum lugar, que eu saiba, pelo menos. Eu só ando, e não há nenhum pensamento de ninguém, nem dele; talvez, não tenho certeza, nem de mim mesmo. Pode ser uma metáfora, a praia, campo... pode ser uma metáfora, ele. Ou eu.

Cada imperfeição nele me lembra tantas imperfeições minhas, agora que penso nisso, que talvez só a praia seja perfeita; a praia que não está mais em lugar nenhum, que nunca existiu de verdade. A praia é o que sobrou de tudo que abstraí, tudo que era imperfeito, que eu subtraí... Nos sonhos não temos consciência - a consciência é a imperfeição. Os sonhos são perfeitos.

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