Monday, January 08, 2007

C'est la vie

Quando eu chego em casa frustrado por não ter pego quem eu queria, às vezes a minha única desculpa, meu único consolo é comer uma lata de atum. Uma lata de 120 gramas (peso drenado) custa por volta de R$2,50. Se eu pensar que no brega onde estava um cachorro quente custa cerca de R$2,00, até que o custo/benefício compensa. O que não compensa é o segurança na porta da boate Natureza, ou melhor, um lá dentro e o outro do lado de fora, vigiando uma outra boate do lado, ou o que eles chamam de boate, e que só tinha umas sete ou oito pessoas dançando lá dentro. Nesse domingo o segurança ficava do lado de fora, um índio com aquela cara arredondada, com o jeito modesto que só eles têm, o sorriso simples, disfarçado de ingênuo, falso, sacana, maldito e benditamente delicioso, e o braço mais duro que um pedaço de tijolo, grande que nem um jabuti masseta, e aquele riso calmo, sacana, sabedor do quanto eu invejava e ao mesmo tempo desejava ele, seguro da sua virilidade, do seu corpo fantástico, e do seu direito de dizer não, só olhe, sempre, pra sempre, nunca, jamais, acontecerá nada. E o pior não é a cara dele de desaprovação, ou antes, impossibilidade, sem nenhuma conotação pejorativa, sem nada moralista nem nada, o pior são as caras das duas vagabundas sentadas na porta, ou lá dentro, mas em geral acompanhando ele escada acima ou abaixo, cientes do meu desejo, insatisfeitas com minha desconsideração para com elas, e sacanas, olhando com aquela cara de quem quer dizer, tsc tsc tsc, mas não diz, apenas olha e ri, num misto de insatisfação que um cara branco, alto e de fora não é nada do que elas queriam, nunca vai ter um olhar de desejo na direção delas, nem também um pensamento de tirar elas dali, e sei lá o que mais aquelas mentes podem querer, só sei da minha mente, cobiçosa, desejosa, ardentemente a fim daquele índio com aquele braço responsa, masseta, deliciosamente grosso, duro, firme e à vontade consigo mesmo, como só alguns índios sabem ser. Sendo assim, cheguei em casa antes da meia-noite, pra não falar do segurança de dentro do Natureza, outro brutamontes delicioso, que também não quis nada comigo, e que ainda assim um dia eu volto lá, só pra ter o prazer de olhar na cara dele e tentar pescar a reação de me ver de novo ali, mesmo que não seja nada, reação alguma, indiferença e desconhecimento, volto só pra olhar de novo aquelas caras de homem e aqueles braços de deuses do concreto, deuses duros e saciados de todo prazer mundando que caras como eu querem deles, e que me frustro por não ter, por não poder ser alguém que os impressione e que os faça desejar alguém mais do que tudo, qualquer coisa mais do que tenho, qualquer coisa que corresponda ao meu desejo inconseqüente, insaciável, suicida e ainda não satisfeito, talvez, muito provavelmente, jamais satisfeito.

2 Comments:

At 11:08 PM , Anonymous Anonymous said...

Olá, Rodrigo!
Só passando pra desejar um grande ano pra vc! O engraçado é que dessa vez , no dia 31, eu dormi pelas 11 da noite... rsrsr... Foi meu reveillon mais tranquilo!!! Sem chatices de ter que brindar, dar pulinhos, chupar uva, pular ondas, abraçar alguém, etc., etc... Com certeza será um bom ano! Ainda mais que estou entregando minha tese! Ufa! Bons ventos balancem sua rede! E bons sonhos com os caras de braços duros! E nunca satisfeito! Abraços!

 
At 12:18 AM , Blogger Rodrigo said...

Valeu, feliz 2007 pra ti também! Ano passado quem tinha passado dormindo fui eu, às vezes é bom também....
Abraço,
Rodrigo.

 

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