Friday, September 21, 2007

Mentalidade brasileira

As mentalidades no Brasil são incríveis. Quem toma o mundo por civilizado e racional, a humanidade por renascentista e iluminizada, pode se assustar.

Em eventos sociais, os homens devem ser cumprimentados com apertos de mão vigorosos e tapinhas nas costas, as mulheres com dois ou três beijos no rosto, mas de preferência sem o beijo (a não ser que se trate de um ritual de acasalamento, e não de mero evento social. No caso de intenção de cópula, o beijo está implícito na côrte, e se está dispensado até de olhar para mulheres feias).

Deve-se discutir futebol, mulher e música, muito antes da política. Geralmente, não se deve discutir política; religião, jamais. Talvez a última parte faça sentido num país onde se acredita em "diversidade cultural, religiosa, etc". Existe sim, mas não se vê por aí. Pra mim, discutir religião é a fina atividade do córtex lógico, argumentativo e racional. Mas é como eu dizia, por aqui a racionalidade não ajuda muito.

No Brasil, as regras existem para serem burladas. É o único país onde sei de uma cultura nacional das "leis que não pegam". E isso inclui, naturalmente, a constituição. No alto clero dos três poderes tudo é permitido, a impunidade é geral. Daí, naturalmente, o povo achar certo dar um jeitinho (ah, o jeitinho brasileiro!) para se arranjar acima das leis, e não necessariamente acima dos seus iguais: o bom mesmo é a galera pobre ser mais esperta que os mauricinhos e patricinhas, estes não deixarem de ganhar a mesada do papai, e quem tem poder não deixar de se aproveitar ao máximo dele.

No Brasil vigora a máxima "o mundo é dos espertos" mais que em qualquer outro país "civilizado" ou "em desenvolvimento" de que já ouvi falar. Existem, por isso, duas visões que parecem se excluir: - de um lado, o narcisismo dos belos e ricos, que não admitem que se escape à Lei que sempre os defende - de outro, a malandragem dos espertos, reis de um olho só numa terra de cegos? que se garantem, apesar de tudo. As duas metades não conhecem o pensamento uma da outra, e nem querem conhecer. Geralmente, talvez por viverem em apenas um lado da moeda, não são dadas a divagações filosóficas, existencialistas, nem levam muito a sério as ciências que esclarecem o abismo social - não tentam compreendê-lo nem tampouco reduzi-lo: quando não estão trabalhando arduamente no que sabem ser a manutenção do status quo, estão cumprimentando-se com tapinhas e beijinhos no rosto, discutindo futebol e música, sem esquecer, claro, a novela, e negando tudo o que fere os nervos sensíveis - ou seja, fugindo à raiz dos problemas.

Solucionaremos com eternos paliativos nossos eternos problemas, e teremos outro meio milênio de história para se rir e chorar.

Brasil 40º?

"Brasil fica em 40º em ranking de melhores países para morar

21/09 - 10:50 - BBC Brasil

O Brasil é o 40º melhor país para se viver no mundo, de acordo com um ranking encabeçado por Finlândia, Islândia e Noruega e publicado na edição de outubro da revista americana Reader's Digest (RD).

A lista foi elaborada pela publicação a partir da análise de indicadores de qualidade ambiental e de vida, com o objetivo de descobrir os melhores países em termos ambientais, mas nos quais "as pessoas possam prosperar".

O ranking também levou em conta fatores sociais, como educação e renda.

Os quatro primeiros lugares do ranking foram dominados por países escandinavos: Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia; seguidos por Áustria, Suíça, Irlanda, Austrália, Uruguai e Dinamarca.

Além do Uruguai, o Brasil ficou atrás de vários outros países da América Latina: Argentina (27ª), Costa Rica (34ª) e Cuba (36ª).

No entanto, o país ficou à frente do Chile (43º), do Paraguai (44º), do Peru (52º), da Colômbia (53ª), do México (63º), da Venezuela (68ª), do Equador (69º) e da Bolívia (75ª).

Melhores cidades

Os mesmos parâmetros foram aplicados pelos repórteres da Reader's Digest para a criação de um ranking de cidades.

Neste ranking, de 72 cidades, novamente, quem lidera são os países nórdicos, mas a Alemanha tem o maior número de cidades entre as dez melhores.

Estocolmo (Suécia) e Oslo (Noruega), lideram a lista, seguidos por Munique (Alemanha), Paris (França), Frankfurt e Stuttgart (Alemanha), Lyon (França), Düsseldorf (Alemanha), Nantes (França) e Copenhague (Dinamarca).

Na lista das cidades, o Brasil entra em 54º, com Curitiba. São Paulo é a única outra cidade brasileira a entrar no ranking, entre os dez últimos, no 62º lugar.

A reportagem da revista americana também chegou a cinco conclusões, depois de analisar os dados de cada país e cidade:

1. É sempre possível ser "mais verde".
Como exemplo, a Reader's Digest cita os líderes da Finlândia, que embora tenham excelentes indicadores para qualidade de ar e d'água, além de baixa mortalidade infantil e baixos riscos de poluição e desastres naturais, produz gases do efeito estufa acima da média, além de apresentar um alto consumo de água e um uso intensivo do solo pela indústria madeireira.

2. Não se pode deixar de pensar no futuro.
Neste quesito, a Reader's Digest cita os Estados Unidos (em 23º no ranking), que por um lado tratam a qualidade da água dos seus rios, por outro, produzem cinco vezes mais dióxido de carbono por pessoa do que a média mundial, e seguem na tendência de aumento.

3. Proteja as florestas e as árvores.
Como a população dos países desenvolvidos tende a se concentrar em cidades, a poluição também se concentra nestas áreas. Daí a importância de "cinturões verdes" ao redor das cidades para diminuir o impacto ambiental dessa poluição no país.

A reportagem da Reader's Digest cita como exemplo disso o Canadá, que apresenta bons indicadores de qualidade de água e ar, embora produza muita poluição em cidades como Montreal.

4. Administrar o progresso em benefício de todos.
O exemplo neste item é a Noruega, em que praticamente todas as crianças completam o nível secundário, o que leva a uma consciência maior sobre questões ambientais e de cidadania, de acordo com a reportagem.

5. Mudar enquanto é tempo
O impacto da China (em 84º no ranking) sobre o meio ambiente mundial pode ser catastrófico, caso o país siga o exemplo dos Estados Unidos.

A revista afirma que se os chineses tivessem o mesmo número de carros por pessoa que os americanos, um bilhão de carros chegariam às ruas, o que se traduziria em um consumo de gasolina equivalente à metade do consumo mundial."


Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/bbc/2007/09/21/brasil_fica_em_40_em_ranking_de_melhores_paises_para_morar_1015300.html



Por que os escandinavos estão no topo? Será pelo arbítrio de nos guiarmos pelo norte geográfico? Ou eles gostam mesmo é de frio? Claro que essa galera que fez essa merda não dorme bem no calor e odeia carapanã, pernilongo, essas companhias tropicais que podem ser aliviadas com o uso de um ventilador ou mosquiteiro, que é bem menos tecnologia que os aquecedores que eles precisam pra sobreviver. Tirando isso, não vejo como Curitiba ou São Paulo poderiam ser vistas como lugares adoráveis num país tropical e caliente como o Brasil.


Wednesday, September 19, 2007

Amazônia Legal = 1 Unidade de Conservação

Vou contar a história de novo, agora de outra forma, que é a minha própria, e também de um novo velho pensamento -=- que está aí muito antes de nós, mas apenas nossa lembrança genética conhece de antemão.

Este pensamento não costuma estar nas ruas das grandes metrópoles nem nos outdoors. Não passa na TV nem no rádio. Em leitura, apenas marginal; mas num país onde os marginais o seriam bem menos, se tivessem amplo acesso à leitura, então a literatura marginal é apenas isso: marginal.

Cadê a história contada pelo pedinte, pelo mendigo, pelo excluído? Cadê o ponto de vista do miserável, do pária, dos Aqualungs e Dona Olímpias do mundo?

Aposto que me interpretarão mal, mas constitui para mim um fato haver na vida muito mais que o dinheiro. E no entanto é preciso ter dinheiro para viajar, e viajar para aprender isso.

WAKE UP AND LIVE!

Vejo uma solução (mas os funcionários públicos são uma elite muito mesquinha para admiti-la/aceitá-la/crer nela/creditá-la): o sistema já não funciona. Os interesses em jogo, são interesses de quem? Macroscopicamente, do privado; onde deveria ser público! Somos ainda uma democracia? Precisamos nos ver como nação, e como tal devemos nos projetar no futuro longínquo, como os grandes impérios fizeram. Mas não fazemos isso, no máximo projetamos o tempo do próximo cargo, do próximo mandato. O público virou de ninguém.

O sistema funciona para os ricos, e funcionários públicos que não podem fazer nada contra os grandes ousam fazer contra os pequenos.

Tudo isso requer estratégia. Qual é a nossa, hoje? pergunto aos colegas. Dinheiro, salário, poder, viagens, diárias, fotos, histórias, conhecimento. Cadê a Estratégia de longo prazo? O modelo de UCs da Mata Atlântica não vai funcionar aqui na Amazônia, a não ser que a

Amazônia Legal = 1 Unidade de Conservação
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(o que os colegas pensam a respeito?)

Uma APA, se quiserem. Mas com Plano de Manejo. Não pode haver fragmentação em larga escala ou a floresta secará. Já limpamos 17% dela, mais 0,5% ao ano, por algumas décadas - se chegarmos a 50% de desmatamento (2080? 2040?), as UCs onde se investiram milhões, bilhões de reais (como os números nos tocam!) vão apenas triste e lentamente - ou quem sabe o quão rápido? ir secando... Uma espécie ou duas de tracajá a mais ou a menos, já não faz diferença.

Se a Amazônia Legal < (menor que) 1 UC (Unidade de Conservação), logo logo, na longa história evolutiva do planeta, teremos um Saara sul-americano, quem sabe ainda por cima erodido pelo degelo dos Andes; plantações de algodão transgênico, babaçu, pasto? Com que chuva? Importada em saquinhos com carimbo e patente, quem sabe?

Friday, September 14, 2007

SimNation - A Arte de Governar

O que qualifica um grande romance, na literatura? Ou um clássico do cinema, ou do teatro? (Embora esta última modalidade de arte seja (ainda mais) pobremente difundida no Brasil que sua mãe, ou seria irmã?, a literatura.) A literatura, o cinema e o teatro são as artes que se desenvolvem num tempo mais longo e profundo que, digamos, a música. Os grandes clássicos são, grosso modo, aqueles que melhor exploram e expõem as universalidades humanas, as grandes paixões, medos e vícios que todos, em todas as épocas, vivenciamos. Talvez por isso a música não seja uma arte tão grandiosa, tão monumental, quanto as anteriores, a não ser talvez, no hibridismo de uma ópera.

Mesmo a pintura pode adentrar a dimensão temporal, pois passamos do geral aos detalhes em um quadro, ou o contrário, apenas depois de um certo tempo, após alguns instantes de atenção (que podem chegar a anos, quando um detalhe sutil passa despercebido). Ainda sobre as pinturas, cada pessoa, como cada época e lugar, terá uma interpretação, ou antes uma percepção diferente, o que costuma ser explorado por pintores habilidosos.

Voltando à narrativa linear, há uma arte moderna que os mais antigos tendem a torcer o nariz para. Videogames, ou vídeo-gueimes, como querem os modernosos, ou jogos eletrônicos, ao lado de programas revolucionários como o Google Earth (e por que não, o próprio sítio de buscas Google), muitas vezes alcançam o que se chama o Estado de Arte da Engenharia - EAE. Como na arquitetura, não basta fazer bem, valoriza-se praticidade, beleza estética, economia (de megabytes, nos computadores), conforto, eficácia, eficiência, baixo custo.

Tudo isso para sugerir que um jogo pode chegar ao estado da arte, e ainda compartilhar com três das belas artes a vantagem extra do desenrolar de uma história, ou antes várias histórias, como é natural à interatividade, e com isso agregar idéias como moral, sentido (enquanto teleologia, direção) e sentido (enquanto significado); e, com tudo isso, discutir conceitos vagos e até perigosos, mas onipresentes, como o significado do bem e do mal.

A luta contra os vídeo-games é tão antiga quanto estes e cresceu junto com o desenvolvimento tecnológico. O tempo gasto na frente dos computadores aumenta dia após dia, a obesidade, o sedentarismo, a "artificialização" do mundo, o isolamento e o individualismo, são algumas das facetas do nosso nem tão admirável mundo novo.

O processo histórico é irreversível, e pior, não pode ser antecipado (ainda?). O apocalipse, aquela figura mitológica, nunca se sentiu tão à vontade em sua própria sala de estar, ou, esperamos, ainda à porta de entrada. MAS... se não podemos prever o futuro, podemos ao menos simular as sociedades? Para que todo o conhecimento acumulado, senão para alimentarmos testes sobre nosso próprio destino? Para nos compreendermos como espécie, como civilização, como experiência, que é o que é, afinal, toda sociedade?

Faltar ao conhecimento obras é como faltá-las à fé: ambos sem obras são mortos. Enquanto a grande arte tenta antecipar às vezes o futuro (embora o consenso dos críticos intelectualóides reverencie mais os "retratos de época"), uma das coisas boas que a irrefreável tecnologia nos trouxe foi o auxílio da "matemática à velocidade da luz", frase que serviria bem como epitáfio para os computadores, caso reste alguém em condições de escrever um qualquer dia.

Dos mapas celestiais de Galileu e Kepler, passamos aos mapas genômicos, para em breve alcançarmos a próxima fronteira, os mapas sociais: simulações de sociedades inteiras, uma espécie de ecologia social, com modelos matemáticos interpretando as obscuras relações entre economia, política, mídia, poder, dinheiro, população, terra, mercado, energia, bens de consumo, tráfego, comunicação, violência, medo, alimentação, educação, saúde, turismo, indústria, agricultura, pecuária, meio-ambiente, pesca, poluição, investimentos públicos e privados, monopólios, oligarquias, sistemas de governo, bancos, sistema financeiro, forças armadas, previdência, hidrografia, empresas aéreas, mineração, conflitos étnicos, religião, linguagem, relações internacionais, tecnologia, ciência, arte, cultura, saneamento, programas espaciais, nucleares e, por que não, a produção de alfinetes por kW*h*funcionário.

As possibilidades são infinitas, e os benefícios óbvios. Compreende-te a ti mesmo - do humano ao super-organismo. Chegou o momento de entendermos o estranho animal chamado Nação. E lutar por ele.

Simnation.

Rodrigo de Loyola Dias, 2007.