Monday, January 21, 2008

Adoção interrompida

Um casal homossexual adotou uma criança, que em seguida lhe foi retirada por uma decisão judicial. A alegação foi de que o casal não seria "normal" o bastante <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=468CIR001>. A decisão do juiz procurou resguardar o que muitos entendem por "a normalidade da vida da criança."

O normal, como se sabe, é aquilo que é desejado por todos, como torcer para o Flamengo, ter uma nega chamada Tereza, um fusca, um violão. O normal é não ter "desvios" de comportamento - desvios em relação ao normal, é claro.

Mas como? A pobreza não é normal? Seria, por isso, desejável? Quero dizer, não existem "normais" desejáveis e indesejáveis? Bons e ruins? O juiz que tomou o casal homossexual da criança (o que é pior do que tomar a criança do casal homossexual), certamente esse juiz tem uma idéia muito bem definida sobre o que é normal, e também do que é bom. Em sua cabeça magistral, uma infância sujeita a imprecações e vergonhas não seria uma infância feliz, o que o fez concluir que é melhor que a criança espere a próxima família.

Humanitário como é esse juiz, ele já deve ter providenciado uma família digna, esposa e esposo, talvez funcionários públicos com boa situação financeira, estáveis. Ou quem sabe professores universitários, que colocarão o filho numa dessas universidades públicas federais, onde todos os jovens têm a liberdade de ignorar as mazelas e a violência do mundo. Onde, aliás, crescem acostumados com a idéia de que algumas pessoas são naturalmente melhores que outras.

Talvez essa criança tenha o seu índio para queimar, acreditando ser só um mendigo. Ou a sua empregada doméstica para apedrejar, pensando tratar-se de uma prostituta. Certamente será educada nos melhores círculos cristãos. E caso aconteça dessa criança assim mesmo se revelar homossexual (acontece nas melhores famílias), será forçada a negar e envergonhar-se de sua natureza, pois todos sabemos que "ser normal", assim como assemelhar-se aos demais, é muito mais importante do que ser o que se é.

E de qualquer forma, quem foi que disse que apenas o sofrimento pode ensinar a humildade?

1 Comments:

At 1:39 PM , Blogger Rafa Pros said...

Cara, muito dificil essa questão. Cada vez mais da tristeza do nosso judiciário, mas ao mesmo tempo isso tudo faz a gente pensar sobre essas questões, e acredito que isso seja importante para deixarmos de ser uma sociedade mediocre e discriminitória..

 

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