Tudo de novo, do início
Cada sistema de pensamento é uma tentativa de dar um valor útil às palavras. Útil porque o mais verdadeiro possível. Os animais também se apegam a um tipo equivalente de utilidade, quando emitem sinais para se comunicarem. As palavras chave aqui podem ser economia e felicidade ou bem-estar. Podemos mudar as palavras chave, podemos mudar o sistema de pensamento, podemos mudar o sentido das palavras, nada nos impede disso. Mas é um fato, uma vez que pode ser medido, como alguns sistemas são mais eficientes que outros, como as pessoas vivem melhor, sentem-se melhor com certos conceitos que com outros. E quem dita esses conceitos? Quem os tem ditado?
- A religião, através de uma imposição de certos mitos.
- A mitologia, através da apresentação e do estudo dos mitos.
- A ciência, através de um método de correção de erros.
Comecemos pela ciência: a invenção do microscópio e do telescópio são talvez igualadas apenas pela invenção da linguagem e da matemática (invenção ou descoberta? Qual a diferença entre inventar o microscópio e descobrir que certas lentes dispostas de certa forma permitem o aumento da visão?). Invenções muito superiores ao avião ou à televisão. Essas duas mudaram nossas vidas, mas não mudaram a visão que temos de nós mesmos.
As formas de pensamento discutidas por Ernest Gellner (Pós-modernismo, Religião e Razão) são mutuamente excludentes porque incompletas. A não ser que analisemos a Razão corretamente. Nos termos de Gellner, Razão parece ser usado em relação à Ciência e ao Positivismo, ideal de progresso, e tudo que tem caracterizado o mundo Ocidental nos últimos seis séculos. No restante do mundo, seja na China ou entre os índios do Amazonas, Razão é aplicada para um conhecimento bífido: o mesmo homem que conta histórias morais para o seu filho constrói a casa da família. Não há fronteira entre a ciência e a filosofia, ética e moral. Todos os aspectos são analisados imparcialmente sob o que chamam de Mitologia. No Ocidente, a Ciência e a Filosofia estão separados, e é fácil (e tentador) para nós imaginarmos a Mitologia indígena ora como Religião, ora como Filosofia. Mas ela é, provavelmente, tudo isso mais Ciência.
À questão "o que é a verdade?", as três categorias de Gellner provavelmente dirão:
a) não há Verdade,
b) a Verdade é revelada por inspiração divina,
c) a Verdade existe como fato, realidade, encoberta por mil véus; a ciência, com o auxílio da filosofia, é um método de erguer véus, de eliminar erros que passariam despercebidos numa análise pouco minuciosa.
De volta ao microscópio.
Por que o microscópio seria uma invenção (ou descoberta) tão sensacional? Porque nos permitiu chegar onde não chegávamos antes, porque aumentou a Resolução da nossa imagem do mundo. Compare um mapa das Américas de 1510 com o Google Earth, antes uma parcela maior da Verdade permanecia encoberta, se compararmos com hoje. Conversando, sempre temos a possibilidade de
aumentar a Resolução de nosso entendimento mútuo, e eu acredito ser este um bom ponto de partida para tentarmos entender o que seja a Verdade.
O mundo é toda a verdade que temos, e talvez toda que precisamos. Jamais saberemos ao certo se a Verdade é única ou se existem "erros na Matrix" - ou seja, se o universo é sujeito a erros, correções, mudanças factuais. O universo segue regras como uma máquina? Ou, como uma máquina mais elaborada, apresenta erros de arredondamento, comportamentos emergentes que jamais serão preditas por todas as regras que conhecermos?
A resposta para isso é que estamos nos afastando demais do que interessa. Os prédios dificilmente cairão de uma hora para outra, ainda que Newton seja incompleto. As pessoas dificilmente seriam convencidas a morar no campo apenas por não haver constância ou "Leis" no universo, por "tudo ser possível". Precisamos acreditar em tanta coisa, para tornar a vida viável, que a escolha de
em que acreditar é muito mais importante do que cogitar se existe ou não 1 Verdade.
Partindo do pressuposto que o mundo é grande e lento o bastante para que nós possamos compreendê-lo (exatamente como uma pessoa pode sair da reta de um rinoceronte enfurecido, e pela mesma razão que a maioria das carapanãs escapa da nossa mão), qualquer motivo para
negar conhecimento é não apenas fútil, mas pernicioso. O materialismo é admitir que a matéria é "morta" o bastante para que possamos prever seu comportamento. O resto é bastante possível, mas quando vidas humanas estão envolvidas, não é mais sensato analisar o que todos têm a dizer, mas com o objetivo de chegar a algum conhecimento? A um consenso?
Creio que um ótimo assunto para um cientista social seja o consenso. Onde ele existe? Como se chega nele? Quais os métodos que diferentes povos desenvolveram, e quais os conceitos que os diferentes grupos têm associados à idéia de consenso?
Em que nível o consenso é permitido? Talvez ele só seja possível até um número X de pessoas, e a partir daí sejam necessárias formas que substituam o consenso. Nascem os Impérios e seus exércitos, nascem as castas, nascem a democracia, o sufrágio universal e a propaganda.
Mas deve haver uma diferença entre um grupo que entende
por que alcançou o consenso, que saberia explicar - ao menos homogeneamente - porque aquela saída é a melhor, e um que não entende. Não é questão de o entendimento do primeiro estar certo ou errado, é questão de seu entendimento de mundo ser comum, possibilitando a transparência, a honestidade, a harmonia que é talvez um pré-requisito do bem-estar que chamamos de felicidade.
Este povo estará disposto a entender um forasteiro, ouvirá suas idéias e tentará compreendê-las, e se houver tempo provavelmente um encontrará nos mitos do outro os seus próprios conceitos, e quantos conceitos irredutíveis há, senão aqueles enunciados por Gellner? Mais uma vez: Pós-modernismo, Religião e Razão?
Não existe regra racional para a certeza, para a Verdade, para a felicidade.
Existem regras emocionais. Quando a razão aprende a ouvir a intuição, a emoção, o inconsciente ou subconsciente, sem desprezar os métodos de maximizar a razão (ou seja, o método científico, a filosofia e os mitos) - a discussão deverá ser possível entre quaisquer dois seres humanos do planeta, assim como o consenso.
A biologia é o estudo das exceções
Estávamos sentados na areia clara olhando o horizonte verde da paisagem, uma garrafa de pinga passando de mão em mão, vendo as águas caudalosas do grande rio descendo à nossa frente. Um e outro se levantava e pulava no rio, voltando para outra dose, a conversa sem pressa...
Era domingo, ou podia ser sábado, não importava. A maioria de nós não tinha qualquer instrução formal, qualquer uma que pudesse ter alguma utilidade em suas vidas, provavelmente, e agora não lembro o porquê de ter pensado naquele momento "o que realmente importa?" Eu poderia ter uma garrafa do melhor uísque, ao invés desta bebida barata, e meu paladar se sentiria grato pela diferença, mas e quanto ao resto? Se não estivéssemos naquele local belíssimo, sem compromissos, sem grandes perspectivas nem preocupações, se estivéssemos sentados em uma sala confortável e climatizada ao redor de uma grande mesa da melhor madeira, rodeados por belas obras de arte apreciando a melhor das bebidas, tudo isso substituiria a divindade daquela areia que não fora criada, o azul do céu que não tinha nome?
Pensei sobre isso e cheguei à conclusão de que a "melhor" bebida é um processo de engarrafamento do belo, uma finitização do infinito. Pois não há paisagem, não há Natureza, que possa ser convertida em algo "nobre" sem a destruição de todos os momentos sagrados que ali teriam lugar algum dia.
- Mas o que é destruído? perguntaram.
- Isto! Respondi. Todos os lugares abertos e belos e ainda suficientemente limpos para nos sentirmos livres. Onde você não precisa pagar para entrar ou ficar atrás de uma cerca, ou ter que fazer uma carteirinha ou preencher um formulário e entrar numa fila, ou aturar de perto - a uma distância menor do que dita um certo instinto - outras pessoas falando e tendo suas intimidades, seu
conforto.
O que está sendo destruído é o conforto dos pobres, ou antes o conforto de todos, para construir uma cara e falsa noção de conforto, que com a ajuda da propaganda faz um bando de macacos se matar e se enfurnar em escritórios para alcançá-la. A cidade destrói muito em nós. Olhem para vocês, olhem para mim. Vocês não conhecem prédios de apartamentos. Vocês não sabem o que é não ter acesso a um mergulho, ao silêncio, à escuridão. Não ter um espaço onde duas pessoas possam se amar escondidos e livres como dois animais. Somos doentes, frágeis, raquíticos, enquanto outros são obesos e carentes. Somos todos carentes como animais enjaulados, feios e sem viço quando comparados à expressão máxima daquilo que nossa estrutura é capaz. Os homens do norte são super-homens, comparados aos homensratos que vivem hospedados como um favor ao longo de avenidas impessoais de lâmpadas amarelas, onde castas andam a cem, cento e cinquenta por hora sem perceber que ali do lado os marginais param para observar as margaridas crescendo.
Qualidade
Aqui, deitado na noite que antecede a grande Singularidade, aguardo no escuro. Vou lembrando da noite de ontem, quando fui no Mistura Fina atrás de alguém. Encontrei-o lá mas conversamos pouco. Eu estava mais querendo observar, e também nunca sei como minha conversa será recebida por quem quer esconder - prazer e sexo entre homens. Diversão, felicidade, conversa. Conversa boa. Conversa de homem. Não esse papo feminino, falando sobre coisas, sobre pessoas. Essas conversas rodeadas por muros. "Não, dali não passo, daqui ninguém me tira." Papo que alguns homens também seguem, mas que não alimenta um tipo de espírito que eu observei em muito mais homens - com e sem instrução formal - que entre mulheres. Alguns dirão que eu não conversei com mulheres suficientes. Eu direi que o motivo que me levou a não conversar com mulheres suficientes foi exatamente este. Sua conversa é apoiada por crenças, não têm agilidade na formulação de perguntas e respostas, gastam muitas palavras para tentar se explicar, quando deveriam buscar se ater a um mínimo, tendem a esconder suas intenções e nem sempre conversam por amor ao conhecimento, à aventura intelectual simples e desinteressada. Vou repetir que há mulheres que são exatamente o contrário disso, e homens que são exatamente assim. Acontece que a biologia é o estudo das exceções.
Exceções?
Mais uma minoria. E quem tem medo de minorias? Quem? Você tem? De quem? De quais? De Quantas? Quem é você? Quem somos nós? A maioria das minorias não tem nome. A maioria das minorias já não deve nem existir mais.
Dominação. Império. Monoculturas.
Comércio, dinheiro, PIB. Pirâmides. Estátuas. Eternidade...
ah o homem e seu sonho pela eternidade. Não satisfeito em ser um ridículo grão de pó, e ainda assim um magnífico grão de pó, o homem quer nada mais nada menos que eternidade!
Mas o que é eterno? O universo parece começar no big-bang e continuar se expandindo e queimando até se apagar de todo, ou retornar ao tamanho inicial e talvez explodir de novo e talvez eternamente, quem sabe com que leis, com que tempo, com que ques. Quem sabe eternamente igual. E ainda que eternamente diferente, se é eterno, e irá se repetir eternamente, então infinitas vezes ele será idêntico em todos os detalhes como ele foi hoje e é sempre. A eternidade é uma armadilhaaranha, e nós somos a mosca em sua teia. E fora dela, quem pode vislumbrar o eterno oceano de espuma, onde todo o universo conhecido é só uma bolhinha? E que importa? Já sabemos que o mundo é infitito para cima e para baixo, resta-nos saber da melhor maneira possível o que está ao nosso redor. O que merece ser chamado de sagrado?
Mitologia, senhores e senhoras. O estudo dos mitos. A criação talvez de novos mitos, para curar o que a ganância dos faraós feriu.
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Em alguns países a homossexualidade ainda é crime:
No Egito, homossexual é preso.
No Iraque, é açoitado em praça pública.
No Irã, é enforcado.
No Afeganistão, é apedrejado até a morte.
Depois dizem que homossexualismo que é doença.
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Na Inglaterra o homossexualismo foi crime até 1967. No Vaticano, é dito que leva ao inferno, e tem muita gente na América Latina que acredita. As igrejas evangélicas por aqui arruinam qualquer chance de felicidade dos homossexuais. E isso tudo por quê? Ora, porque, matematicamente, estatisticamente, esses "curados" recalcados darão crianças com boas chances de serem crentes fiéis à igreja que ensina aquilo. Nas casas onde crescem, livros são vistos com desprezo, ciência e filosofia também. Os representantes atuais do Estado toleram tudo, pois é do voto de ignorantes que dependem. As famílias que têm algo a perder entram na onda aceitando a falsa paz que os impede de serem talvez nômades, batizam suas crianças e pedem a benção para seus matrimônios, colocam os filhos no catecismo, e os homossexuais continuam no escuro.
Até que... dez anos depois, o mundo mudou. As frentes do Ocidente avançaram, a crença religiosa deu lugar à descrença e ao niilismo. Jovens conservadores e ingênuos deram lugar a cínicos desapaixonados. Mas aqui e ali, numa esquina e num quarto de motel, alguém apaixonado vive ainda, alguém no meio do caminho, pedra para uns, esperança para outros, alguém que ama e obedece conforme sua própria moral, mas uma moral fluida, não volátil, nem sólida, condizente com a razão e a emoção, uma moral que busca ser equilibrada, que se admira e se espanta frente ao desconhecido, que não teme e quer sempre conhecer. Conhecimento pelo conhecimento, bondade pela bondade, prazer pelo prazer. Aqui e ali essas pessoas buscam se encontrar e ter voz, e à medida que os anos passam elas se encontram e não podemos dizer que as engrenagens estão paradas nem completamente enferrujadas, embora todos os dias esses manipuladores do mundo trabalhem duro para manter tudo como está, e outros ainda piores não querem nada menos que retornar à antiga confiança de que não seriam incomodados, não seriam destituídos, não seriam ultrapassados. Serão ultrapassados, mas por quem? E quem estará sentado à direita e à esquerda desses que tomarão a frente? Se soubéssemos, talvez estivéssemos fazendo outra coisa, talvez não. Cada um é cada um. E a maioria de cada época será julgada pela maioria da época seguinte (e pelas minorias de todas as épocas). Nós. Julgando por nossa própria experiência, por uma experiência livre e enriquecida por viveres proibidos, ou pela experiência de quem dita o que é proibido, o que é saudável, o que é belo. Ainda que hoje o caro seja feio, o suntuoso seja deselegante e o grande seja pequeno. Como, talvez, sempre foi, mas provavelmente nunca tão feio, tão deselegante e pequeno como hoje. Quem enxerga a inflexão da curva?
Dizer que não existe instinto é negar o sentimento de frustração do homem em uma distopia. Vivemos em uma distopia, por isso ninguém pode dizer que discorda. Você pode discordar politicamente, mas não fora do sistema político. Você pode discordar publicamente, mas não daquilo que o público concorda. "Calem-se as minorias, Deus está falando!"
Por todo o salão as cadeiras rodeavam o picadeiro, onde uma puta se apresentava por vez. A cerveja não era cara, e era gelada. O atendimento era bom, o ambiente era seguro, embora visitado pelos tipos mais bizarros. Um homem à minha esquerda se levantou e sentou-se ao meu lado, oferecendo-me uma bela pulseira de prata. Disse que não usava essas coisas, e nem tinha a quem dar. Ah, a objetividade, sempre abrindo portas. Ele insistiu que estava desempregado, liso, precisava faturar algum, etc, e eu perguntei com o que ele trabalhava, quando estava empregado. Em joalheria, ele disse. Perguntei se havia mais trabalho para quem mexia com jóias alguns anos atrás, quando o garimpo não era tão controlado como hoje, e foi uma pergunta boba, senti após tê-la feito. Estava na segunda garrafa. Ele virou os olhos e eu abaixei a cabeça e ri. Ele me mostrou a peça, apanhei-a nas mãos e olhei de perto. Uma corrente de elos achatados cinza-chumbo, uma peça central mais clara, tudo muito polido e sóbrio e belo. Devolvi-lhe e ele me pediu um gole. Chegou a estender a mão sobre meu copo de plástico, e em outra ocasião eu o teria deixado beber. Mas ali, preferi pagar-lhe uma garrafa. Interrompi seu braço com um movimento gentil e lhe disse. Se o homem estivesse de pé acredito que teria saltado. Seus olhos de repente brilharam e ele pareceu estar disposto a fazer qualquer coisa por mim naquela fração de segundo. Deu-me um abraço (as cadeiras eram próximas), cumprimentou-me e começou a desfiar seu rosário de agradecimentos e lisonjas. Não lembro o que disse, eu estava muito feliz. Ele terminou seus agradecimentos e disse que voltaria para a sua mesa. Eu achei aquilo tão maravilhoso, sincero e simples. Econômico seria a palavra errada, foi mais como uma máquina bem regulada, o óleo lubrificando os cilindros, os cilindros girando rápido...
...ou apenas na velocidade certa.
Para que realidade virtual quando podemos sonhar.
E por que não "para que realidade quando podemos sonhar"?
Porque a distopia não pode vencer. Ou, com o que sonharão aqueles que só conheceram mármore e amianto, concreto e asfalto? Só sonhamos com aquilo que existe, o que se perdeu já não ocupa mais nossos sonhos. E quando o sonho é pesadelo, as feras da antiguidade vêm tomar de volta um espaço da sua realidade que lhes foi tomado. E sempre que a Lua se põe eles descem do seu lado escuro para perturbar o inconsciente dos homens. E de tão imundo está o seu inconsciente que o homem tombará por fim a lua, para não mais ter medo de sonhar. Mas aí já não haverá com o que sonhar...
Todas as ciências se unem, então por que a biologia continua sendo sistematicamente ignorada pelos que manipulam mentiras cotidianas? Por que não liberam um pouco o picadeiro para que outros palhaços tenham vez? Afinal, todos queremos rir, e vocês já perderam a graça.
Dizendo ao mundo que ainda estou vivo. Aqui do alto vemos o horizonte como deviam fazer os antigos defensores de alguma coisa. Escrever sob o pós-modernismo é algo torpe, pois nenhuma experiência é creditada. Tudo é possível e válido, tudo parece possível e válido, mesmo quando a ciência diz o contrário. Todos querem ter expressão, é o que manda agora a democracia, e por ser o governo tão corrupto ninguém quer ver alguém decidindo sobre o sentido do que quer que seja. Mentiras são ditas nos grandes jornais e revistas, na TV e rádios, e na maior parte de qualquer sistema de informação que se crie, seja no governo ou Internet.
Não estamos tão longe de Skynet como na minha infância, quando me sentia seguro no alto da goiabeira, observando os vertebrados do bairro, pulando entre o muro e o telhado para melhor compreender o que ainda restava da realidade. Hoje ninguém dá a mínima, nem governo, nem igreja, nem mídia. Estão todos muito ocupados ganhando dinheiro para poder pensar.
O que aconteceu?
1) Os recursos se tornaram escassos e todo mundo agora precisa batalhar mais para viver/
3) Ninguém sabe o que está acontecendo?
4) Deus está certo, mas não o Deus daquele outro ali
5) O povo foi ficando cada vez mais burro, embora com melhor tecnologia, ou justamente por causa disso.
6) As artes nos ameaçam - para representar uma comédia, talvez uma arte seja como a religião
7) A humanidade foi sendo enfraquecida aos poucos, com motores que substituem os músculos, veículos a motor que substituem o andar, celulares que poupam uma visita, a tv para sempre nos mostrar o que os governadores pensam, o elevador para subir e descer, a escada para um possível incêndio...
8) O que acontece, de fato?
Manual de religião - leia antes de usar
As pessoas devem ser enfraquecidas, seu vigor físico e intelectual, drenado. Devem ser doutrinadas a manter
famílias estáveis, seguras, duráveis, para que crianças possam ser geradas, ainda que inseguras, ainda que seus porquês não possam ser respondidos, suas dúvidas iluminadas.
"Engula a pílula da felicidade e não pense demais."
Deve haver uma força superior insondável, insípida, fugidia, ou os barões precisariam estar sempre se explicando. Deus deve ser um mistério, e a filosofia deve ser abolida. Nossas mentes são limitadas: ou entendem a filosofia ou aceitam um simulacro, uma máscara, uma farsa com final feliz.
Saber perguntar é uma arte e uma ciência que leva décadas para cultivar. Mas se você joga veneno num cérebro em formação essa habilidade não se desenvolve. "Deus" é este veneno.
No politeísmo há espaço para várias interpretações. No monoteísmo não - só há um livro em cada região geográfica - e isso basta para dividi-las.
O monoteísmo é a monocultura do espírito. Um espírito acostumado à monocultura não se espanta em ver a beleza viva e a diversidade serem destruídas - para gerar mais crianças e ver realizados seus pequenos sonhos burgueses, sem nenhuma visão de comunidade, de "fisiologia da sociedade", muito menos múltipla e diversa como a espécie inteira. O
Homo sapiens como um todo, e toda a vida - é
isso que deve ser sagrado.
Um Deus único é uma
invenção bem localizada no tempo e no espaço. Seu papel é
dividir culturas e garantir que
não se entendam mutuamente.
"Deus" é uma pequena caixa opaca que não deixa ver o que há fora, sejam estrelas, flores ou sentimentos. Mentira sobre mentira pintado de um falso branco da "paz". Mas a ignorância, o preconceito e a intolerância continuam - o que mais se pode dizer? - graças à idéia de Deus.
Para que mais crianças?
1) Porque precisamos de mais consumidores e mão-de-obra para as indústrias - isto é, para a nação?
ou 2) Porque a religião que exige crianças consegue ocupar cedo tais mentes inocentes, em maior quantidade; e quanto mais tenra, quanto mais nova a mente ocupada, maior a garantia de que o medo dominará essa mente agora aversa ao conhecimento da ciência, filosofia e história, ao menos até a idade reprodutiva, e provavelmente durante o período crucial da educação dos filhos. Um ciclo vicioso. Daí o batismo ser necessário para "salvar o bebê inocente do inferno" (que DEUS seria ESTE?)
Nascemos ignorantes. A campanha religiosa é tão intrincada e forte, tão falaciosa e escorregadia, que é preciso
muito estudo e uma considerável
força de vontade para nos vermos finalmente
livres (embora ainda uma minoria).
"Deus" é uma muleta psicológica que apenas adiciona variáveis à equação do conhecimento, sem contribuir para resolvê-la - serve apenas para ocultar a verdade, tornando-nos um rebanho ignorante, por isso mais dócil e manipulável. As sociedades mais pobres e menos autodeterminadas são aquelas onde o monoteísmo entra com menos dificuldade. As nações dominantes no capitalismo também se tornam a cada dia menos cientes de fatos importantes da vida. A ignorância ronda ambos, ricos e pobres, crentes e descrentes. Há mitologias que podem nos ensinar o que falta, mas elas são muitas e estão espalhadas entre povos onde até agora não se tem procurado.
Fé - Eu tenho fé em que um dia deixaremos de usar muletas e deixaremos de
aceitar que o ser humano deva ser fraco, medroso, ignorante, pequeno e mesquinho - porque
não somos assim. Tornaram-nos assim culturalmente através de um longo processo histórico que não ensinam nas escolas, mas que podem ser encontrados nos livros - não na Bíblia ou no Corão, naturalmente - e até mesmo à nossa volta, nessas partes do mundo ainda menos afetadas pelo contágio.
O instinto da curiosidade está aí e renasce a cada geração. A mudança está mais próxima do que se imagina.
Ciência e religião
Ciência e religião não se misturam? Ótimo. Portanto, a religião nada tem a dizer sobre a vida, uma vez que existem ciências da vida. Nada tem a dizer sobre o aborto, pois o estudo da gravidez, dos sentimentos e necessidades da mulher grávida são parte dessas ciências, assim como o estudo das populações humanas, da demografia, das necessidades alimentares, do consumo e escassez de recursos, entre tantos outros. A religião nada tem a falar sobre sexo, pois aqui também a ciência tem muito a dizer.
Religião e ciência são métodos, e não precisam mesmo se misturar.
Aparentemente, religião vem da palavra
religar, reunir-se, enxergar e presenciar o
todo. A diferença maior parece ser que algumas religiões (justo as monoteístas) têm conceitos bastante peculiares, como culpa, pecado, salvação e medo. Outras (ateístas e politeístas) buscam anular o medo.
Enquanto há medo, podemos dizer que estamos "religados"? Ou o medo é um sinal evidente de isolamento e individualidade? Temer a "Deus" ou temer àqueles que falam como que "por procuração"? Alguém já ouviu Deus falar? Qual a diferença entre isso e a
imaginação?
Os países e povos onde o monoteísmo domina a "opinião pública" não parecem ser os mais individualistas? De tão acostumados a adaptarem os fatos às teorias (e não o contrário), não são esses mesmos povos e países tão preparados, e talvez até ansiosos pelo advento do Apocalipse? Não é este o seu "final feliz"? Não é o que se anuncia a cada dia, como que para "preparar-nos ante o inevitável", enquanto apenas alguns poucos buscam efetivamente
combatê-lo?
Espiritualidade
Eu faço parte do Cosmos, como o Cosmos faz parte de mim. Eu
sou o Cosmos, o Cosmos vê e adquire consciência através de mim.
A minha vida afeta e é afetada pelas vidas dos outros. Amor é parte da natureza humana e não pode ser ensinado. Se alguém
exorta os outros a amar, isso é amor ou obediência? É amor ou medo? "Amar, verbo intransitivo." Talvez respeito possa ser ensinado.
Respeito é discussão.
Discussão é deixar o espírito nu e questionar a verdade. Indagar e ser o mais honesto possível na resposta. Respeito é pensar no próximo e no longínquo. É não falar anonimamente, nem aceitar conclusões precipitadas. Deus É uma conclusão precipitada. Deus é apenas parte da resposta, jamais ela inteira. Deus e Alá não são o mesmo - suas "leis" (ditadas por pessoas falhas e tendenciosas) são diferentes. Shiva, Brama e Thor não são os mesmos, nem Apolo, Minerva, Júpiter, Afrodite ou Baco (nem ditam leis, apenas assopram sugestões. Mitologia, folclore, conhecimento).
Matou-se tantos deuses, pela glória de "um só", e não sabemos nem seus nomes.
"Um só Deus" = monocultura do espírito = criar pessoas para ocuparem caixotes de olhos fechados.
Matar faz parte da natureza humana; preservar a vida também.
Buscar conhecimento faz parte da natureza humana; a coragem e a covardia também.
Entender a natureza humana é respeitar-nos. Isso só pode ser alcançado pela discussão, honesto consigo e com os outros. Tapar tudo isso com "Deus" é tentar tapear-nos. Chega de tapeação. Monoteísmo, seu tempo na Terra acabou.
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(pensamentos desfiados)
discussão = busca da verdade = paraíso
(idéia retirada de "Os Versos Satânicos" - livro esclarecedor que garantiu a seu autor a pena de morte em um certo país monoteísta)
Buscar a verdade é o paraíso. Mas o que é a verdade? Qual verdade? Que temos chamado de verdade?
A verdade física, o mundo em si? (Conceito proposto por Aristóteles, ao qual nada mais temos a acrescentar.)
Ou a "verdade de cada um", o oceano de mentes e pontos de vista, vasto e inescrutável oceano não de fatos nem de verdades, mas de interpretações parciais que, somadas, constituem o melhor que podemos fazer em direção ao conhecimento.
Acreditar é fugir da arena da razão, da trilha do conhecimento. Um povo sem conhecimento é como o gado na fila do abate - não tem alternativa, não tem escolha - não tem
opinião.
Onde chegamos, quando estabelecemos como
teto uma "verdade" tão parcial e simplória quanto um Vertebrado Gasoso?
Se você é crente, considere-se vítima da sua igreja. A verdadeira espiritualidade se sente, se sabe - não se "acredita". Entre acreditar e não acreditar, é melhor saber ou esperar.
Monoteístas são ateus para todas as outras divindades já inventadas.
Monoteístas são vítimas deste tipo peculiar: que defende seu algoz.
Acreditar em fantasmas não é problema - problema é acreditar/valorizar
mais os fantasmas do que a realidade. E trazer, por ignorância, mil preconceitos atrelados a esses fantasmas. E fugir sempre da discussão. Se os seus velhos são assim,
não permita que seu vício seja transmitido às crianças, a não ser que deseje ver o milenar ciclo vicioso da prisão do espírito se perpetuar...